A cultura egípcia, por volta de 4.000 anos a.C., alcançou um nível elevado de expressão musical, pois era um território que preservava a agricultura e este costume levava às cerimônias religiosas, onde as pessoas batiam espécies de discos e paus uns contra os outros, utilizavam harpas, percussão, diferentes formas de flautas e também cantavam. Os sacerdotes treinavam os coros para os rituais sagrados nos grandes templos. Era costume militar a utilização de trompetes e tambores nas solenidades oficiais.
Na Ásia, a 3.000 a.C., a música se desenvolvia com expressividade nas culturas chinesa e indiana. Os chineses acreditavam no poder mágico da música, como um espelho fiel da ordem universal. A “cítara” era o instrumento mais utilizado pelos músicos chineses, este era formado por um conjunto de flautas e percussão. A música chinesa utilizava uma escala pentatônica (cinco sons). Já na Índia, por volta de 800 anos a.C., a música era considerada extremamente vital. Possuíam uma música sistematizada em tons e semitons, e não utilizavam notas musicais, cujo sistema denominava-se “ragas”, que permitiam o músico utilizar uma nota e exigia que omitisse outra.
A teoria musical só começou a ser elaborada no século V a.C., na Antiguidade Clássica. São poucas as peças musicais que ainda existem deste período, e a maioria são gregas. Na Grécia a representação musical era feita com letras do alfabeto, formando “tetracordes” (quatro sons) com essas letras. Foram os filósofos gregos que criaram a teoria mais elaborada para a linguagem musical na Antiguidade. Pitágoras acreditava que a música e a matemática formavam a chave para os segredos do mundo, que o universo cantava, justificando a importância da música na dança, na tragédia e nos cultos gregos.
É de conhecimento histórico que os romanos se apropriaram da maioria das teorias e técnicas artísticas gregas e no âmbito da música não é diferente, mas nos deixaram de herança um instrumento denominado “trompete reto”, que eles chamavam de “tuba”. O uso do “hydraulis”, o primeiro órgão cujos tubos eram pressionado pela água, era freqüente.
Hoje é possível dividir a história da música em períodos específicos, principalmente quando pretendemos abordar a história da música ocidental, porém é preciso ficar claro que este processo de fragmentação da história não é tão simples, pois a passagem de um período para o outro é gradual, lento e com sobreposição. Por volta do século V, a igreja católica começava a dominar a Europa, investindo nas “Cruzadas Santas” e outras providências, que mais tarde veio denominar de “Idade das Trevas” (primeiro período da Idade Média) esse seu período de poder.
A Igreja, durante a Idade Média, ditou as regras culturais, sociais e políticas de toda a Europa, com isto interferindo na produção musical daquele momento. A música “monofônica” (que possui uma única linha melódica), sacra ou profana, é a mais antiga que conhecemos, é denominada de “Cantochão”, porém a música utilizada nas cerimônias católicas era o “canto gregoriano”. O canto gregoriano foi criado antes do nascimento de Jesus Cristo, pois ele era cantado nas sinagogas e países do Oriente Médio. Por volta do século VI a Igreja Cristã fez do canto gregoriano elemento essencial para o culto. O nome é uma homenagem ao Papa Gregório I (540-604), que fez uma coleção de peças cantadas e as publicou em dois livros: Antiphonarium e as Graduale Romanum. No século IX começa a se desenvolver o “Organum”, que são as primeiras músicas polifônicas com duas ou mais linhas melódicas. Mais tarde, no século XII, um grupo de compositores da Escola de Notre Dame reelaboraram novas partituras de Organum, tendo chegado até nós os nomes de dois compositores: Léonin e Pérotin. He also began the “Schola Cantorum” that gave great development to the Gregorian chant.
A música renascentista data do século XIV, período em que os artistas pretendiam compor uma música mais universal, buscando se distanciarem das práticas da igreja. Havia um encantamento pela sonoridade polifônica, pela possibilidade de variação melódica. A polifonia valorizava a técnica que era desenvolvida e aperfeiçoada, característica do Renascimento. Neste período, surgem as seguintes músicas vocais profanas: a “frótola”, o “Lied” alemão, o Villancico”, e o “Madrigal” italiano. O “Madrigal” é uma forma de composição que possui uma música para cada frase do texto, usando o contraponto e a imitação.
Os compositores escreviam madrigais em sua própria língua, em vez de usar o latim. O madrigal é para ser cantado por duas, três ou quatro pessoas. Um dos maiores compositores de madrigal elisabetano foi Thomas Weelkes.
Após a música renascentista, no século XVII, surgiu a “Música Barroca” e teve seu esplendor por todo o século XVIII. Era uma música de conteúdo dramático e muito elaborado. Neste período estava surgindo a ópera musical. Na França os principais compositores de ópera eram Lully, que trabalhava para Luis XIV, e Rameau. Na Itália, o compositor “Antonio Vivaldi” chega ao auge com suas obras barrocas, e na Inglaterra, “Haëndel” compõe vários gêneros de música, se dedicando ainda aos “oratórios” com brilhantismo. Na Alemanha, “Johann Sebastian Bach” torna-se o maior representante da música barroca.
A “Música Clássica” é o estilo posterior ao Barroco. O termo “clássico” deriva do latim “classicus”, que significa cidadão da mais alta classe. Este período da música é marcado pelas composições de Haydn, Mozart e Beethoven (em suas composições iniciais). Neste momento surgem diversas novidades, como a orquestra que toma forma e começa a ser valorizada. As composições para instrumentos, pela primeira vez na história da música, passam a ser mais importantes que as compostas para canto, surgindo a “música para piano”. A “Sonata”, que vem do verbo sonare (soar) é uma obra em diversos movimentos para um ou dois instrumentos. A “Sinfonia” significa soar em conjunto, uma espécie de sonata para orquestra. A sinfonia clássica é dividida em movimentos. Os músicos que aperfeiçoaram e enriqueceram a sinfonia clássica foram Haydn e Mozart. O “Concerto” é outra forma de composição surgida no período clássico, ele apresenta uma espécie de luta entre o solo instrumental e a orquestra. No período Clássico da música, os maiores compositores de Óperas foram Gluck e Mozart.
Enquanto os compositores clássicos buscavam um equilíbrio entre a estrutura formal e a expressividade, os compositores do “Romantismo” pretendem maior liberdade da estrutura da forma e de concepção musical, valorizando a intensidade e o vigor da emoção, revelando os pensamentos e sentimentos mais profundos. É neste período que a emoção humana é demonstrada de forma extrema. O Romantismo inicia pela figura de Beethoven e passa por compositores como Chopin, Schumann, Wagner, Verdi, Tchaikovsky, R. Strauss, entre outros. O romantismo rendeu frutos na música, como o “Nacionalismo” musical, estilo pelo qual os compositores buscavam expressar de diversas maneiras os sentimentos de seu povo, estudando a cultura popular de seu país e aproveitando música folclórica em suas composições. A valsa do estilo vienense de Johann Strauss é um típico exemplo da música nacionalista.
O século XX é marcado por uma série de novas tendências e técnicas musicais, no entanto torna-se imprudente rotular criações que ainda encontra-se em curso. Porém algumas tendências e técnicas importantes já se estabeleceram no decorrer do século XX. São elas: Impressionismo, Nacionalismo do século XX, Influências jazzísticas, Politonalidade, Atonalidade, Expressionismo, Pontilhismo, Serialismo, Neoclassicismo, Microtonalidade, Música concreta, Música eletrônica, Serialismo total, e Música Aleatória. Isto sem contar na especificidade de cada cultura. Há também os músicos que criaram um estilo característico e pessoal, não se inserindo em classificações ou rótulos, restando-lhes apenas o adicional “tradicionalista”.
Fontes
BENNETT, Roy. Uma breve história da música.Rio de Janeiro: Zahar, 1986.
COLL, César, TEBEROSKY, Ana. Aprendendo Arte. São Paulo: Ática, 2000.
Música do Brasil
A música do Brasil formou-se, principalmente, a partir da fusão de elementos europeus e africanos, trazidos respectivamente por colonizadoresportugueses e pelos escravos.
Até o século XIX Portugal foi a porta de entrada para a maior parte das influências que construíram a música brasileira, erudita e popular, introduzindo a maioria do instrumental, o sistema harmônico, a literatura musical e boa parcela das formas musicais cultivadas no país ao longo dos séculos, ainda que diversos destes elementos não fosse de origem portuguesa, mas genericamente europeia. A maior contribuição do elemento africano foi a diversidade rítmica e algumas danças e instrumentos, que tiveram um papel maior no desenvolvimento da música popular e folclórica, florescendo especialmente a partir do século XX. O indígena praticamente não deixou traços seus na corrente principal, salvo em alguns gêneros do folclore, sendo em sua maioria um participante passivo nas imposições da cultura colonizadora.
Ao longo do tempo e com o crescente intercâmbio cultural com outros países além da metrópole portuguesa, elementos musicais típicos de outros países se tornariam importantes, como foi o caso da voga operística italiana e francesa e das danças como a zarzuela, o bolero e habanera de origem espanhola, e as valsas e polcas germânicas, muito populares entre os séculos XVIII e XIX, e o jazz norte-americano no século XX, que encontraram todos um fértil terreno no Brasil para enraizamento e transformação.
Com o importante influxo de elementos melódicos e rítmicos africanos, a partir de fins do século XVIII, a música popular começa a adquirir uma sonoridade caracteristicamente brasileira. Na música erudita, contudo, aquela diversidade de elementos só apareceria bem mais tarde. Assim, naquele momento, tratava-se de seguir - dentro das possibilidades técnicas locais, bastante modestas em relação aos grandes centros europeus ou mesmo em comparação com o México e o Peru - o que acontecia na Europa e, em grau menor, na América espanhola. Uma produção de caráter especificamente brasileiro na música erudita só aconteceria após a grande síntese realizada por Villa Lobos, já em meados do século XX.
Índice
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Música erudita

Primórdios
O que se conhece dos primeiros tempos da música erudita no Brasil é muito pouco. Não se pode pintar um panorama da música nacional durante os dois primeiros séculos de colonização sem sermos obrigados a deixar amplos espaços em branco. Os primeiros registros de atividade musical consistente provêm da atividade dos padres jesuítas, estabelecidos aqui desde 1549. Dez anos depois já haviam fundado aldeamentos para os índios (as chamadas reduções) com alguma uma estrutura educativa musical. Neste início, ainda com escasso número de cidades, mesmo as mais importantes não passando de pequenos povoados, também é lembrada a atividade de Francisco de Vaccas como mestre-de-capela e Pedro da Fonseca como organista, ambos ativos na Sé de Salvador.1

Um século mais tarde as reduções do sul do Brasil, fundadas por jesuítas espanhóis, conheceriam um florescimento cultural vigoroso e exuberante, onde funcionaram verdadeiros conservatórios musicais, e relatos de época atestam a fascinação do índio pela música da Europa e sua competente participação tanto na construção de instrumentos como na prática instrumental e vocal.2 Os padrões de estilo e interpretação eram naturalmente todos da cultura da Europa, e o objetivo desta musicalização do gentio era acima de tudo catequético, com escassa ou nula contribuição criativa original de sua parte. Com o passar dos anos os índios remanescentes dos massacres e epidemias foram se retirando para regiões mais remotas do Brasil, fugindo do contato com o branco, e sua participação na vida musical nacional foi decrescendo até quase desaparecer por completo.3
O mesmo caso de dominação cultural ocorreu no caso do negro, cuja cultura foi tão decisiva para a formação da música brasileira atual, especialmente a popular. Mesmo com a vinda de maciços contingentes de escravos da África a partir do século XVI, sua raça era considerada inferior e desprezível demais para ser levada a sério pela cultura oficial. Mas seu destino seria diferente do do índio. Logo sua musicalidade foi notada pelo colonizador, e sendo uma etnia mais prontamente integrável à cultura dominante do que os arredios índios, grande número de negros e mulatospassaram a ser educados musicalmente - dentro dos padrões portugueses, naturalmente - formando orquestras e bandas que eram muito louvadas pela qualidade de seu desempenho. Mas a contribuição autenticamente negra à música erudita brasileira teria de esperar até o século XX para poder se manifestar em toda sua riqueza. É importante assinalar ainda a formação de irmandades de músicos a partir do século XVII, algumas integradas somente por negros e mulatos, irmandades estas que passariam a monopolizar a escrita e execução de música em boa parte do Brasil.4
O século XVIII e a Escola Mineira

Enquanto que até o início do século XVIII a maior parte da música erudita era praticada na Bahia e Pernambuco, música da qual nada se conhece senão relatos literários e iconografia, já que todas as partituras foram perdidas,5 em seguida já vemos uma atividade musical se disseminar em todas as partes do país dotadas de alguma estrutura mais ou menos estabilizada, formando-se um público apreciador em todas as classes sociais, com novos centros no Rio de Janeiro, São Paulo, Pará e Maranhão. As pequenas orquestras privadas se multiplicam, as irmandades atuam intensamente, as igrejas apresentam rica variedade de música, as corporações militares possuem suas bandas estáveis e a ópera de matriz napolitana torna-se verdadeira mania. As salas de concerto e teatros aparecem em diversas cidades, especialmente em Salvador, São Paulo, Recife e no Rio de Janeiro - algumas bastante luxuosas. São de lembrar, na primeira metade do século, os nomes de Luís Álvares Pinto, mestre de capela da Igreja de São Pedro dos Clérigos em Recife, do padre Caetano de Mello de Jesus, compositor e insigne teórico na Bahia, e Antônio José da Silva, o Judeu, que fez sucesso em Lisboa como autor de libretos mordazes, escritos para comédias de costumes que seriam muito encenadas também no Brasil até o Império, e cuja parte musical era do compositor Antônio Teixeira.6
Na segunda metade do século XVIII um grande florescimento musical aconteceu na Capitania das Minas Gerais, especialmente na região de Ouro Preto, Mariana e Diamantina, onde a extração de grandes quantidades de ouro e diamantes destinados à metrópole portuguesa atraiu uma população considerável que deu origem a uma próspera urbanização. Ali a vida musical, tanto pública como privada, religiosa ou secular, foi muito privilegiada, registrando-se a importação de grandes órgãos para as igrejas e de partituras europeias pouco tempo após sua publicação em seus países originais. Neste período surgiram os primeiros compositores importantes naturais da terra, muitos deles mulatos. Dignos de nota foram José Joaquim Emerico Lobo de Mesquita, talvez o mais importante deste grupo, Manoel Dias de Oliveira, Francisco Gomes da Rocha, Marcos Coelho Neto (pai) e Marcos Coelho Neto (filho), todos muito ativos. Trazem obras suas algumas das mais antigas partituras escritas no Brasil a chegarem até os nossos dias, ainda que a maior parte de sua produção também tenha se perdido. Mas dentre o que restou são exemplos notáveis um Magnificat de Manuel Dias de Oliveira e a célebre Antífona de Nossa Senhora, de Lobo de Mesquita. Impressionam as estatísticas da época do apogeu mineiro: em Diamantina existiriam dez regentes em atividade, o que implicaria um corpo de músicos profissionais de pelo menos 120 pessoas; em Ouro Preto teriam atuado cerca de 250 músicos, e mais de mil em toda a Capitania, sem contar os diletantes, que deveriam compor uma legião adicional, uma quantidade maior do que a que existia na metrópole portuguesa na mesma época, como informou Vasco Mariz.7

Graças a esta opulência, e à sua consistência e uniformidade estética, justifica-se a denominação do grupo de compositores ativos na região como a "Escola Mineira". Muito já foi publicado sobre ela descrevendo-a como uma escola barroca, já que comparativamente o estilo Barroco ainda sobrevivia forte nas artes visuais brasileiras, mas atualmente se considera a Escola como fruto da rápida penetração da influência neoclássica, derivada especialmente de Haydn, Mozart, Pleyel, Boccherini e outros, cujas obras circulavam impressas e eram avidamente procuradas e copiadas, e só raramente se percebem ecos da estética que antes prevalecera. Até há pouco tempo em grande parte desconhecido, este acervo de música colonial, quase em totalidade no gênero sacro, vêm recebendo mais atenção no Brasil e também no exterior, especialmente após as pesquisas realizadas porFrancisco Curt Lange nos anos 40, e hoje está sendo mais amplamente estudado e divulgado.5 8 9
Com o esgotamento das minas no fim do século o foco da atividade musical se deslocaria para outros pontos, especialmente o Rio de Janeiro e São Paulo. Nesta, merece menção André da Silva Gomes, de origem portuguesa, Mestre de Capela da Catedral, deixando bom número de obras e dinamizando a vida musical da cidade.10
O Classicismo
Fator crucial para a transformação da vida musical e dos parâmetros estéticos brasileiros seria a chegada da corte portuguesa ao Rio de Janeiro em 1808. Até então o Rio não se distinguia em nada de outros centros culturais do país, sendo mesmo inferior a Minas e aos centros nordestinos, mas a presença da corte alterou radicalmente a situação, concentrando todas as atenções e servindo como grande estímulo a um outro florescimento artístico, já de molde claramente classicista. Dom João VI havia trazido consigo a vasta biblioteca musical dos Bragança - uma das melhores da Europa na época - e rapidamente mandou vir músicos de Lisboa e castrati da Itália, reorganizando a Capela Real agora com cerca de 50 cantores e uma centena de instrumentistas, e mandou construir um suntuoso teatro, chamado de Real Teatro de São João. A música profana contou com a presença de Marcos Portugal, nomeado Compositor da Corte e Mestre de Música dos Infantes, e de Sigismund von Neukomm, que contribuíram com apreciável quantidade de obras próprias e também para divulgar na capital o trabalho de importantes autores europeus, como Mozart e Haydn.11
Neste ambiente atuou o primeiro grande compositor brasileiro, o padre José Maurício Nunes Garcia. Homem de grande cultura para sua origem - era mulato e pobre - foi um dos fundadores da Irmandade de Santa Cecília no Rio, professor de muitos alunos, Pregador Régio e Mestre da Capela Real da Sé durante a estada de Dom João VI no Brasil. Deixou extensa obra de alta qualidade, onde se destacam a Missa Pastoril, a Missa de Santa Cecília, o Officium de 1816, e as intensamente expressivas Matinas de Finados, para coro a capella, além de alguma música instrumental e obras teóricas.12 São interessantes neste período também as figuras de Gabriel Fernandes da Trindade, compositor de modinhas e das únicas peças camerísticas remanescentes do início do século XIX, um conjunto de refinados Duos Concertantes para violinos,13 Damião Barbosa, que segundo Vasco Mariz foi na Bahia o que o padre Maurício representou no Rio, eJoão de Deus de Castro Lobo, que atuou nas já decadentes Mariana e Ouro Preto, mas deixando obra de grande qualidade.14
Este período de brilho não duraria muito. Em 1821 o rei foi obrigado a retornar a Lisboa, levando consigo a corte, e a vida cultural no Rio esvaziou-se de súbito. Apesar do entusiasmo de Dom Pedro I pela música, sendo ele mesmo autor de algumas peças e da música do Hino da Independência, a difícil situação financeira gerada pela independência não permitia muitos luxos. O incêndio do Teatro de São João em 1824 foi outro golpe, apesar de ter sido restaurado e reinaugurado sob o nome de Teatro de São Pedro de Alcântara e continuar com suas récitas operísticas. Com a abdicação de Dom Pedro em 1831 e a consequente instabilidade política e social durante a menoridade de seu sucessor, o cenário se estreitou ainda mais e foi dissolvida a Capela Imperial, permanecendo um punhado de músicos.15
- Padre José Maurício: Moteto Domine Jesu (versão instrumental midi)
Romantismo
A figura central nestes tempos difíceis foi Francisco Manuel da Silva, discípulo do Padre José Maurício e sucessor de seu mestre na Capela. Apesar de ser compositor de escassos recursos, merece crédito por sua importante atividade organizadora, fundando o Conservatório de Música do Rio de Janeiro e sendo o regente do Teatro Lírico Fluminense e depois da Ópera Nacional. Também foi o autor do Hino Nacional Brasileiro. Sua obra refletiu a transição do gosto musical para o Romantismo, quando o interesse dos compositores nacionais recaiu principalmente sobre a ópera. Neste campo a maior figura foi sem dúvida Antônio Carlos Gomes, que compôs óperas com temas nacionalistas mas com estética europeia, tais como Il Guarany e Lo Schiavo, que conquistaram sucesso em teatros europeus exigentes como o La Scala, em Milão.
O bel canto estava em seu auge na Europa, e era apreciadíssimo no Brasil, especialmente na capital, mas também em Recife, São Paulo e Salvador. Há registro de inúmeras representações de obras de Rossini, Bellini, Donizetti e mesmo Verdi, além de compositores franceses como Meyerbeer,Adam e Hérold. Em 1857 foi criada a Ópera Nacional, sob inspiração de José Amat, e logo a iniciativa foi respaldada pelo governo. De início dedicada a apresentação de zarzuelas e óperas cômicas, logo passou a incorporar ao repertório obras sérias brasileiras de José Ferreira, Elias Álvares Lobo e Carlos Gomes, e algumas óperas estrangeiras foram encenadas no vernáculo. A voga da ópera perduraria até meados do século XX e seria o motivo para a construção de uma série de teatros importantes, como o Amazonas de Manaus, o Municipal do Rio, o São Pedro em Porto Alegre, o da Paz emBelém e diversos outros, todos de proporções majestosas e decorados com requintes de luxo.
Apesar da primazia da ópera a música instrumental também era praticada, sendo o piano o instrumento privilegiado. Alguns pianistas importantes realizaram recitais aqui, como Sigismond Thalberg em 1855, e Gottschalk fez furor com sua Fantasia Triunfal sobre o Hino Nacional Brasileiro. Nesta época algumas associações privadas se organizaram para realização de recitais e concertos destinados a sócios em São Paulo, onde Alexandre Levycriou o Clube Haydn, e no Rio, onde o Clube Mozart, fundado em 1867, e o Clube Beethoven, de 1882, realizaram centenas de concertos.
Entre os meados do século XIX e o início do século XX tiveram um papel importante através de sua produção com características progressistasLeopoldo Miguez, seguidor da escola wagneriana, Glauco Velásquez, de curta e brilhante aparição, e Henrique Oswald, que empregava elementos doimpressionismo musical francês.
- Carlos Gomes: Alvorada, para orquestra
- Glauco Velásquez: Alma minha gentil, opus 107, para canto e orquestra
Nacionalismo
Após Carlos Gomes passou-se a prestar mais atenção ao que poderia constituir uma música autenticamente brasileira. Neste sentido o rico folclore nacional foi a peça-chave, e compositores utilizaram seus temas para elaborações eruditas, embora ainda seguidoras em linhas gerais de escolas estrangeiras. Brasílio Itiberê da Cunha também foi um dos precursores desta corrente, com sua rapsódia A Sertaneja, para piano, escrita entre 1866 e 1869. Outros nomes importantes sãoLuciano Gallet e Alexandre Levy, de escola europeia, mas que uma forma ou outra buscaram incorporar elementos tipicamente nacionais em sua produção. O caminho estava aberto, e um sabor definitivamente brasileiro pode ser encontrado na obra de Antônio Francisco Braga, e especialmente em Alberto Nepomuceno, a figura dominante do período, que empregou largamente ritmos e melodias do folclore em uma síntese inovadora e efetiva com as estruturas formais de matriz europeia. A atuação de Nepomuceno também foi importante por ter ele sido presidente da primeira associação brasileira dedicada a concertos sinfônicos públicos.16
Um momento importante foi a realização da Semana de Arte Moderna de 1922. Apesar de ter incluído relativamente pouca música em sua programação, o movimento teria impacto na reformulação dos conceitos sobre a arte nacional. Naquela ocasião se apresentou Heitor Villa Lobos, que viria a ser a figura maior do nacionalismo musical brasileiro.17 Ao lado de outros modernistas da literatura e das artes plásticas, como Mário de Andrade e Di Cavalcanti, que na época entendiam, assim como a geração anterior, o folclore como a base de uma música legitimamente nacional,18 Villa Lobos empreendeu aprofundadas pesquisas sobre o folclore musical brasileiro, que incorporou largamente em sua produção, e era dono de uma inspiração enérgica e apaixonada. Soube fazer seus elementos nacionais e estrangeiros, eruditos e populares, criando um estilo próprio de grande força e poder evocativo, em uma produção caudalosa que empregava desde instrumentos solo, onde o violão teve um papel de destaque, até grandes recursos orquestrais em seus poemas sinfônicos, concertos,sinfonias, bailados, e óperas, passando pelos múltiplos gêneros da música de câmara vocal e instrumental. Villa Lobos também desempenhou um papel decisivo na vida musical do país em virtude de sua associação com o governo, conseguindo introduzir o ensino do canto orfeônico em todas as escolas de nível médio. Das suas obras são notáveis a série dos Choros, dasBachianas Brasileiras, as suítes intituladas A Prole do Bebê, o Rudepoema, os bailados Uirapuru e Amazonas, e o Noneto.
Outros compositores de gabarito também abordaram em maior ou menor grau o nacionalismo, como Oscar Lorenzo Fernández, Francisco Mignone, Camargo Guarnieri, Luís Cosme,Osvaldo Lacerda e José de Lima Siqueira, e traços desta tendência podem ser encontrados até a contemporaneidade. A grande adesão de músicos respeitados deu uma força irresistível à renovação do cenário musical brasileiro, e o violento combate entre os acadêmicos e os modernistas que dominou as artes visuais da primeira metade do século se repetiu na música, enfrentando grande resistência dos setores conservadores, renovando os conceitos sobre arte erudita e arte popular e abrindo um frutífero diálogo entre ambas. O movimento brasileiro acompanhava uma tendência internacional, que teve grande impacto nas Américas e na Europa oriental. Ao mesmo tempo, as bases do sistema tonal, que prevalecera desde o barroco, começavam a ser fortemente abaladas com a introdução de outros sistemas, como o serialismo e o dodecafonismo de Schoenberg, enquanto que novas pesquisas apareciam no campo dainstrumentação, do ritmo e das formas musicais.18 19
Vanguardas e sínteses posteriores
A despeito de seus avanços em relação à eclética estética da belle époque, a escola nacionalista foi identificada por parte dos músicos como servil à política centralizadora de Getúlio Vargas.18 Em 1939 foi criado o Movimento Música Viva, liderado pelo compositor, professor e musicólogo Hans Joachim Koellreutter, e por Egídio de Castro e Silva, advogando a adoção de uma estética internacionalizante derivada do dodecafonismo. Faziam parte deste grupo Claudio Santoro, César Guerra Peixe, Eunice Catunda e Edino Krieger. O movimento tinha conotações políticas e alguns de seus membros militavam na esquerda ou tinham ligações com ela.19
Koellreutter adotava métodos revolucionários de ensino, respeitando a individualidade do aluno e estimulando a livre criação antes mesmo do conhecimento aprofundado das regras tradicionais de composição (harmonia, contraponto e fuga). O Movimento editou uma revista e apresentava uma série de programas radiofônicos divulgando seus princípios e obras de música contemporânea. Em 1946 foi publicado um Manifesto, expressando sua negação do academismo e do formalismo, e sua defesa de uma música exercida conscientemente e com compromisso social, e que refletisse a sociedade e pensamento contemporâneos, mas flexibilizando suas posturas em direção a uma recuperação de elementos diatônicos e populares ainda considerados capazes de veicular a verdade musical da sua época. O movimento encontrou continuidade, embora numa interpretação peculiar, em um núcleo formado em torno daUniversidade Federal da Bahia, com Ernst Widmer e Lindembergue Cardoso, dentre outros.20 19
Mais adiante Guerra Peixe e Santoro seguiriam um caminho independente e centrado em regionalismos, influenciando a música popular brasileira instrumental. Outros autores, em busca de um pluralismo idiomático, que fizeram uma utilização livre de materiais tradicionais ou progressistas, folclóricos ou tonais, foram Marlos Nobre, Almeida Prado, e Armando Albuquerque, criadores de estilos muito característicos.19
Nos anos 60 um novo impulso criativo apareceu com o movimento Música Nova, liderado por Gilberto Mendes e Willy Corrêa de Oliveira, fundado em 1963 buscando sintetizar o serialismo com as pesquisas mais recentes sobre microtonalidade, processos eletroacústicos e a música concreta, empregando novos recursos notacionais e reavaliando conceitos da semióticamusical, com grande influência sobre a música para teatro. A paradigmática peça Beba Coca-Cola, de Gilberto Mendes sobre texto de Décio Pignatari, causou sensação em sua estreia em 1968 e inaugurou uma tendência multimedia e performática no panorama musical brasileiro.19
Atualmente todas as correntes contemporâneas encontram representantes brasileiros, e a música erudita no país segue a tendência mundial de usar livremente tanto elementos experimentais quanto consagrados. Um dado importante foi a introdução da música eletrônica. Destacam-se entre os novos compositores Rubens Ricciardi e Florivaldo Menezes Filho.19
Em termos de ensino musical e grupos de interpretação o Brasil encontra-se em posição relativamente boa, dada sua história de poucos séculos, embora não se possa comparar aos países mais desenvolvidos do mundo ocidental. A música erudita ainda recebe escasso apoio oficial, a despeito do crescente número de escolas e de novos músicos ali formados, e do público apreciador. Diversas capitais estaduais e outras tantas cidades do interior dispõem de pelo menos uma orquestra sinfônica estável e uma escola superior de música, mas grupos de nível realmente internacional ainda são poucos, podendo-se citar a Orquestra Sinfônica da USP (OSUSP), a Orquestra Sinfônica Brasileira (OSB), a Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (OSESP), Orquestra Sinfônica do Paraná e a Orquestra Sinfônica de Porto Alegre (OSPA), além de poucas outras mantidas por grandes empresas como a Orquestra Petrobras Sinfônica. Grupos de câmara são mais numerosos e qualificados, e intérpretes solo já contam-se em milhares, muitos deles de carreira consolidada fora do país. Existem temporadas regulares de ópera em São Paulo e Rio de Janeiro; eventos como o Festival de Inverno de Campos do Jordão tornam-se uma referência nacional, e maestros como Roberto Minczuk, John Neschling, Eleazar de Carvalho e Isaac Karabtchevsky são respeitados internacionalmente.
Dentre os instrumentistas, são nomes notórios Fernando Lopes, Roberto Szidon, Antonio Meneses, Cussy de Almeida, Gilberto Tinetti, Arnaldo Cohen e Nelson Freire, além das veneradasEudóxia de Barros, Yara Bernette, Guiomar Novais e Magdalena Tagliaferro, das primeiras a conquistarem o público estrangeiro. Dos cantores tivemos Zola Amaro, Constantina Araújo, Bidu Sayão. Hoje são destacados Eliane Coelho, Kismara Pessatti, Maria Lúcia Godoy, Sebastião Teixeira entre muitos outros.
Música popular urbana
Origens

A música popular urbana brasileira é resultado da confluência cultural de três etnias: o índio, o branco e o negro, dos quais herdamos todo o instrumental, o sistema harmônico, os cantos e as danças.21 Como manifestação cultural expressiva, ela surgiu no início do século XIX, nos principais centros do entãoBrasil Colônia, notadamente Rio de Janeiro e Bahia, entoada por pessoas que cantavam modinhas e lundus ao violão, ao piano ou acompanhadas por bandas instrumentais.22 Os dois principais gêneros musicais urbanos nos tempos do Império e do início da República eram o lundu e a modinha, apreciados tanto em saraus literário-musicais da elite da época e quanto nas ruas, tabernas e lares mais simples. Sozinhos ou em grupo, instrumentistas ao violão saíam à noite pelas ruas e residências entoando músicas românticas e cristalizando, ao final do século XIX, a brasileiríssima tradição da seresta.23
Originalmente uma dança africana que chegou ao Brasil, via Portugal, ou diretamente, com os escravos vindos de Angola, o lundu tinha uma natureza sensual e humorística que foi censurada na metrópole, mas no Brasil recuperou este caráter, apesar de ter incorporado algum polimento formal e instrumentos como o bandolim. Mais tarde o lundu, que de início não era cantado, evoluiu assumindo um caráter de canção urbana e se tornando popular como dança de salão. Outra dança muito antiga é o cateretê, de origem indígena e influenciada mais tarde pelos escravos africanos.
Já a modinha tem origem possivelmente portuguesa a partir de elementos da ópera italiana, foi citada pela primeira vez na literatura por Nicolau Tolentino de Almeida em 1779, embora seja ainda mais antiga.24 Domingos Caldas Barbosa foi um de seus primeiros grandes expoentes, publicando uma série que foi extremamente popular na época. A modinha é em linhas gerais uma canção de caráter sentimental de feição bastante simplificada, muitas vezes de estrutura estrófica e acompanhamento reduzido a uma simples viola ou guitarra, sendo de apelo direto às pessoas comuns. Mesmo assim era uma presença constante nos saraus dos aristocratas, e podia ser mais elaborada e acompanhada por flautas e outros instrumentos e ter textos de poetas importantes como Tomás Antônio Gonzaga, cujo Marília de Dirceu foi musicado uma infinidade de vezes. A modinha era tão apreciada que também músicos da corte criaram algumas peças no gênero, como Marcos Portugal, autor de uma série com letras extraídas da Marília de Dirceu, e o Padre José Maurício, autor da célebre Beijo a mão que me condena.
Durante o período colonial e o Primeiro Império também as valsas, polcas, schotischs e tangos de diversas origens estrangeiras encontraram no Brasil uma forma de expressão peculiar e que, junto com a herança da modinha, viriam a ser a origem do Choro, um gênero que recebeu este nome em virtude de seu caráter plangente. Surgiu em torno de 1880 e logo adquiriu uma feição própria, onde o improviso tinha um papel principal e estabilizando-se na formação para uma flauta, um cavaquinho e um violão, e mais tarde ampliando seu instrumental. Seus maiores representantes foram Joaquim Antônio da Silva Calado, Anacleto de Medeiros, Chiquinha Gonzaga, Ernesto Nazareth e Pixinguinha.
Primeira metade do século XX]
Derivado da umbigada, um ritmo africano, o samba já era registrado desde 1838, e recebeu influências da modinha, do maxixe e dolundu, e no século XIX a palavra designava uma variedade de danças de origem negra. No início do século XX, era um tipo de música identificada as pessoas dos estratos mais humildes. Mas em 1917, ele sairia das rodas de improvisações e criações conjuntas dos morros cariocas e seria alçado a condição de representante da música popular brasileira.
Inspirado no modelo das operetas, teve seu início no Brasil em meados do século XIX com a apresentação em 1859 da peça As Surpresas do Sr. José da Piedade, de Justiniano de Figueiredo Novaes. O gênero caiu no agrado das massas e se caracterizava por ser uma crítica satírica aos costumes vigentes. Os números apresentados eram em geral canções populares ou paródias de obras célebres, acompanhadas por uma orquestra de câmara. Nos anos 30 atingiu seu auge, com encenações luxuosas e que já apresentavam as suas estrelas, as vedetes, com trajes sumários, o que deu origem à derivação do Teatro Rebolado. As companhias mais famosas foram as de Walter Pinto e Carlos Machado, revelando talentos como Carmen Miranda, Wilza Carla, Dercy Gonçalves e Elvira Pagã, que fizeram imenso sucesso.
Também no fim dos anos 30 iniciou no Brasil a chamada Era do Rádio, quando este meio de comunicação assumiu um importante papel de divulgador de música popular até bem dentro da década de 1950, e onde alguns intérpretes conquistaram uma audiência nacional, como Dolores Duran, Nora Ney, Vicente Celestinoe Ângela Maria. A chamada era de ouro da música brasileira é de início impulsionada pela popularização do rádio em 1927 e com o início das gravações elétricas, que revelam futuros grandes ídolos como Francisco Alves e Carmen Miranda. Durante esse período a indústria nacional produziu mais de 48 mil fonogramas. A Casa Edison tornou-se Odeon (hoje EMI) e começava a enfrentar os concorrentes de peso, como a Victor (atual BMG), a Columbia (depois Continental, hoje Warner) e a Brunswick (espólio repartido bem mais tarde entre as atuais Sony e Universal).
A Bossa Nova foi um movimento basicamente urbano, originado no fim dos anos 50 em saraus de universitários e músicos da classe média. De início era apenas uma forma (bossa) diferente de cantar o samba, mas logo incorporou elementos do Jazz e do Impressionismo musical de Debussy e Ravel, e desenvolveu um contorno intimista, leve e coloquial, e baseado principalmente na voz solo e no piano ou violão para acompanhamento, ainda que com refinamentos de harmonia e ritmo. Dentre seus maiores nomes estão o de Nara Leão, Carlos Lyra, João Gilberto, Toquinho, Vinícius de Morais e Tom Jobim.
Segunda metade do século XX

No início da década de 1960, houve uma revalorização do samba feito por compositores oriundos das classes populares, como Cartola e Nelson Cavaquinho, que tiveram composições gravadas por artistas como Elizeth Cardoso e Nara Leão. Depois da bossa nova, o samba ganharia novas experimentações com outros gêneros, como o rock e o funk, experimentados por artistas como Jorge Ben e Don Salvador. Mas o período marcaria uma afirmação e modernização dentro da música popular, onde foram introduzidos novos estilos de composição e interpretação, com os surgimentos da MPB e movimentos como o Tropicalismo e o Iê Iê Iê.
No seio dos grandes festivais musicais das TVs da época e no esgotamento da bossa nova, surgia uma geração universitária de compositores e cantores, entre os quais Chico Buarque, Geraldo Vandré e Edu Lobo, que seria idolatrada pela intelectualidade cultural e classificada sob à sigla MPB (Música Popular Brasileira). Era um movimento intimamente ligado ao engajamento e protesto contra a Ditadura militar no Brasil.
O movimento tropicalista caracterizou-se por associar numa mistura antropofágica elementos da cultura pop, como o rock, e da cultura de elite (como oconcretismo). Os baianos Caetano Veloso e Gilberto Gil foram os principais expoentes desse movimento. Já o Iê Iê Iê ligava-se basicamente ao rock genuinamente produzido no exterior, embora no Brasil tenha se suavizado e adotado uma temática romântica em uma abordagem muitas vezes ingênua, e teve como grandes nomes Roberto Carlos, Erasmo Carlos, Tim Maia, Wanderléa, José Ricardo, Wanderley Cardoso e conjuntos como Renato e Seus Blue Caps,Golden Boys, The Fevers.
A transição para a década de 1970 foi marcada pela consolidação da chamada MPB, termo que passou a se ligar a um tipo de música supostamente mais sofisticada do que a feita em outras tendências bastante populares dentro da música brasileira, como o samba, a música caipira ou a música romântica popular - esta última ganharia na década seguinte a pecha de brega. Nesse contexto, da chamada MPB, despontavam artistas como os Caetano Veloso, Gilberto Gil, Chico Buarque, Gal Costa, Simone, Elis Regina, Rita Lee e Maria Bethânia.
No samba, houve uma revalorização do sub-gênero partido-alto - inclusive, com o lançamento comercial de discos. Sambistas como Cartola, Candeia e Nelson Cavaquinho também puderam gravar pela primeira vez sua obra em LPs e novos artistas destacavam-se no meio, como Martinho da Vila, Paulinho da Viola,Alcione, Beth Carvalho e Clara Nunes.
Com o fim do programa Jovem Guarda, o cantor Roberto Carlos aproximou-se de um estilo mais romântico, consolidando-se ainda mais sua posição de artista mais popular do país. Na mesma tendência e com bastante popularidade, artistas como Odair José e Waldick Soriano eram tachados como "cafonas" por críticos do gênero.
Durante os anos oitenta nascia dentro do rock brasileiro o movimento BRock, com o surgimento de artistas como Blitz, Paralamas do Sucesso, Titãs, Ultraje a Rigor e Legião Urbana. No final da década de 1980, gêneros populares ou regionais como o sertanejo, o pagode e o axé music passavam a ocupar espaço considerável nas emissoras de rádio FM e canais de TV.
Nos anos noventa, o funk carioca e o hip hop se popularizava entre jovens do Sudeste brasileiro, enquanto que o pejorativamente chamado "brega" resistia e se fundia a outros estilos musicais, mantendo-se popular no Norte/Nordeste do país.
A música popular hoje
Com a crescente abertura do Brasil à cultura globalizada dos anos 90 em diante, concomitante ao maior conhecimento, valorização e divulgação de suas próprias raízes históricas, sua música vem mostrando grande originalidade e variedade, observadas na criativa fusão de influências diversas e na riqueza de gêneros musicais encontrados hoje em dia, como o samba, amúsica sertaneja, o BRock, o samba-reggae, o baião, o forró, a lambada, a música eletrônica, os regionalistas, entre tantos outros.
Nota-se uma substancial predominância das mulheres no campo da interpretação de canções: desde as divas da era do radio até os dias atuais as mulheres são maioria. Em 2006 mais de 100 discos de intérpretes femininas foram lançadas. No mesmo período, foram lançados apenas 34 discos de intérpretes masculinos.25
A Música popular tradicional ou folclórica
Inserida dentro da Música popular Brasileira está a chamada música tradicional ou folclórica, um sub-gênero que é constituído por expressões musicais transmitidas de geração em geração em zonas onde os modernos meios de comunicação e o mercado de consumo ainda não exercem decisivamente sua influência diluidora. Estas expressões se encontram na maior parte das vezes ligadas a festividades, lendas e mitos característicos de cada região, e podem preservar influências arcaicas, onde são detectáveis traços medievais europeus ou indígenas e negros muito antigos, ou de elementos étnicos específicos quando pertencem a regiões de imigração de populações de fora do Brasil, como ocorre no Rio Grande do Sul, que recebeu grandes levas de italianos, açorianos e alemães.
Dentre as mais típicas estão as congadas, da região centro-nordeste do país, os ternos-de-reis, associados a ritos religiosos católicos, o repentismo, gênero de desafio musical em improviso, de larga difusão em todo o Brasil com estilos diversos, as cirandas, as cantigas de roda, que fazem parte do universo infantil, catira, cururu, toada, fandango, jongo, samba de roda, coco, bambelô, embolada, milonga, pajada, rancheira, bugio, carimbó, entre muitos outros gêneros que constituem um riquíssimo acervo musical que tem inspirado compositores do porte de Villa-Lobos.
A partir do final da década de 60 um trabalho de resgate da música popular brasileira de raíz foi feito pelo pesquisador Marcus Pereira que através de sua gravadora 'Discos Marcus Pereira' levantou o que ficou conhecido como o 'Mapa musical do Brasil' indo da música da cidade até as regiões mais remotas do interior do país, tendo como destaque uma série de 16 álbuns de música folclórica de cada região do Brasil, podendo ser classificado como um documento da música popular brasileira com dimensões antropológicas e sociológicas.26
- Cantico Salutaris - Festa do Divino de Pirenópolis - Orquestra e Coral Nossa Senhora do Rosário, Pirenópolis
Música indígena

Dentro da classe de músicas tradicionais podem ser incluídas as ainda praticadas pelos remanescentes das tribos de índios que outrora povoavam todo o território nacional e hoje vivem confinados em reservas especialmente na região amazônica e do centro-oeste, onde o contato com o colonizador foi menos profundo e transformador. Alguns grupos tiveram uma expressiva participação na música do Brasil especialmente no âmbito dasReduções Jesuítas durante os séculos XVII e XVIII, adquirindo grande proficiência na interpretação da arte musical de tradição européia, mas em geral os índios evitaram o contato mais profundo com o branco, esquivando-se quando possível da aculturação, e logo se retiraram para regiões mais remotas. Assim, seu papel na vida musical nacional diminuiu até quase desaparecer, permanecendo sua música como um universo à parte das correntes gerais que floresceram no país.27 28
Mencionada desde os primeiros tempos coloniais, sua música própria, ou o que dela restou, só passaria a receber mais atenção acadêmica e oficial a partir do trabalho de pesquisa de Mário de Andrade e Villa Lobos no século XX.29 Nas reservas onde ainda vivem seus descendentes alguns ritos religiosos e festejos sociais de longa tradição ainda são encontrados de forma mais ou menos autêntica, como as cerimônias do Kuarup, do Ouricuri e do Umbu, onde a música e a dança desempenham um papel de grande relevo.30
Onde a música indígena encontrou o elemento negro fusões resultaram em uma forma de cultura específica denominada cabocla, com manifestações híbridas típicas como o candomblé de caboclo, o maracatu de caboclo e outras.
A música indígena tinha (e ainda tem) um caráter sobrenatural, sendo ligada desde suas origens imemoriais a mitos fundadores e usada com finalidades de socialização, celebração, culto, ligação com os ancestrais e exorcismo, magia ou cura. Segundo certas lendas a música foi um presente dos deuses, entristecidos com o silêncio que imperava no mundo dos humanos. Na maioria dos casos a música é associada à dança e é uma atividade coletiva.28 31 32
A voz e o canto são dominantes na música indígena, mas existe um muito variado instrumental de apoio, com instrumentos de percussão, sopro e zunidores, mas classificações próprias dos índios fazem distinções diferentes, com dezenas de categorias para "coisas de fazer música". Os instrumentos podem ser feitos de uma variedade de materiais, como sementes, madeiras, fibras, pedras, objetos cerâmicos, ovos, ossos, chifres e cascos de animais. Não seguindo o sistema tonal ocidental, a sua sonoridade apresenta uma enorme sutileza e complexidade especialmente nostimbres e nas alturas. O ritmo também é extensamente trabalhado. Contudo, não existe desenvolvimento de polifonia ou harmonia reais (num sentido ocidental), sendo de uma espécie monódica ou no máximo heterofônica, com alguns exemplos de composição antifonal. Não existe notação, e o acervo de composições antigas é transmitido pela prática continuada entre as gerações. A criação de novas músicas é geralmente adstrita aos pajés, que as intuem em seus transes onde estabelecem contato com deuses e ancestrais, ou surgem nos sonhos dos guerreiros mais distinguidos da tribo.27 30 33
Também há rigorosas prescrições para uso de determinadas melodias e para quem será o intérprete, e para quando serão executadas. Há músicas e instrumentos exclusivos dos homens, outros só de mulheres, ou melodias cantadas apenas em um certo rito ou com uma função específica. Em algumas tribos as mulheres não podem sequer ver certos instrumentos (embora devam ouvir sua música), como as flautas produzidas com madeira de certas árvores sagradas como a paxiúba e embaúba, consideradas como sendo o corpo místico de seus heróis.30
A interpretação musical está usualmente cercada de rituais propiciatórios ou facilitadores, como a pintura de uma linha sobre o ouvido e lábio para facilitar o aprendizado de canções, colocar um ramo de enodoréu à orelha para não esquecer a melodia, e uma série de outras praxes.
- Música folclórica de Mato Grosso do Sul
- Música popular brasileira
- Discos Marcus Pereira
- Música nativista
-
Ver página anexa: Lista de cantores do Brasil
- Lista de grupos musicais brasileiros
- Lista de bandas de forró
- Listas de bandas de xote
- Lista de grupos musicais (ver Brasil)
- Categoria:Música do Brasil
- Categoria:Compositores eruditos do Brasil
Referências
- Ir para cima↑ Mariz, Vasco. História da Música no Brasil. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2005. 6ª edição ampliada e atualizada, p. 33.
- Ir para cima↑ Trevisan, Armindo. A Escultura dos Sete Povos. Brasília: Editora Movimento / Instituto Nacional do Livro, 1978
- Ir para cima↑ Mariz, pp. 33-34
- Ir para cima↑ Mariz, pp. 34-35
- ↑ Ir para:a b Duprat, Régis. "O Barroco Musical no Brasil". In: Tirapeli, Percival. Arte sacra colonial: barroco memória viva. UNESP, 2005, pp. 230-234
- Ir para cima↑ Mariz, pp. 35-36
- Ir para cima↑ Mariz, pp. 35-38
- Ir para cima↑ Vasconcellos-Correa, Sérgio de. "Música Colonial Brasileira: Barroco (?) Brasileiro". In: Tirapeli, Percival. Arte sacra colonial: barroco memória viva. UNESP, 2005, pp. 236-240
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- Ir para cima↑ Mariz, pp. 51-59
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- Ir para cima↑ Castagna, Paulo. Gabriel Fernandes da Trindade: Duetos Concertantes. Paulus, 1995.
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- Ir para cima↑ Travassos, Elizabeth. Modernismo e Música Brasileira. Zahar, 2000, pp. 17-19
- ↑ Ir para:a b c Contier, Arnaldo Daraya. "O nacional na música erudita brasileira: Mário de Andrade e a questão da identidade cultural". In Fênix – Revista de História e Estudos Culturais, 2004; I (1)
- ↑ Ir para:a b c d e f Mendes, Gilberto. "Música moderna brasileira e suas implicações de esquerda". In: Música, 1991; 2 (1):37-42
- Ir para cima↑ Grupo de compositores da Bahia: Implicações culturais e educacionais, por Ilza Nogueira.
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- Ir para cima↑ Diniz, 2006, p.20
- Ir para cima↑ Diniz, 2006, p.22
- Ir para cima↑ Fryer, Peter (1 de março de 2000). Rhythms of Resistance. Pluto Press, 142-143. ISBN 0-7453-0731-0.
- Ir para cima↑ A nação das cantoras
- Ir para cima↑ https://esquizofia.com/2013/04/25/colecao-discos-marcus-pereira-completa-em-torrent/
- ↑ Ir para:a b Bastos, Rafael José de Menezes & Piedade, Acácio Tadeu de Camargo. "Sopros da Amazônia: Sobre as Músicas das Sociedades Tupi-Guarani". In: MANA 5(2):125-143, 1999.
- ↑ Ir para:a b Antunes, Amauri Araújo. Performance da Música Indígena no Brasil. Hemispheric Institute
- Ir para cima↑ De Almeida, M. Berenice & Puci, Magda Dourado. Outras Terras, Outros Sons. São Paulo: Callis Editora Ltd., 2003, pp. 52-53
- ↑ Ir para:a b c Piedade, Acácio Tadeu de Camargo. "Reflexões a partir da etnografia da música dos índios Wauja". In: Anthropológicas, ano 10, volume 17(1): 35-48, 2006.
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- Ir para cima↑ Antunes, A Música Além da Música
- Ir para cima↑ De Almeida, M. Berenice & Puci, Magda Dourado. Outras Terras, Outros Sons. São Paulo: Callis Editora Ltd., 2003, pp. 52-56
Bibliografia
- Hindley, Geoffrey (editor). The Larousse Encyclopedia of Music. Londres: Hamlyn, 1990.
- Diniz, André. Almanaque do samba. Jorge Zahar Editor Ltda, 2006. ISBN 8571108978
Ligações externas
- Acervo da Música Brasileira - Museu da Música de Mariana, com partituras e gravações de música colonial brasileira
- Música Colonial Brasileira
- PubliFolha - Música
- Música Erudita
- História da Música Erudita no Brasil
- Pequena História da Bossa Nova- áudio e imagens de capas de LPs
- Dicionário Cravo Albim
HISTÓRIA DA MÚSICA BRASILEIRA
A Formação da música brasileira
A música do Brasil se formou a partir da mistura de elementos
europeus, africanos e indígenas, trazidos respectivamente por
colonizadores portugueses, escravos e pelos nativos que habitavam o
chamado Novo Mundo. Outras influências foram se somando ao longo da
história, estabelecendo uma enorme variedade de estilos musicais.
A música no tempo do descobrimento
Você já se perguntou se na época do descobrimento do Brasil havia
música? O que será que os índios que por aqui viviam cantavam? Será que
eles tocavam algum instrumento? Como será que foi a reação dos
indígenas quando os primeiros portugueses chegaram em suas
“caravelas”, trazendo violas e outros instrumentos de Portugal?
Os portugueses realmente se espantaram com a maneira de vestir dos
nativos e da maneira como eles faziam músicas: cantando, dançando,
tocando instrumentos (chocalhos, flautas, tambores).
Pois então... Agora, use sua criatividade e desenhe uma cena do tempo do
descobrimento do Brasil, em que um português vê pela primeira vez um
grupo de índios tupis cantando e dançando. Você poderá usar algumas
informações:
• O maracá era um instrumento muito apreciado pelos índios tupis da
costa do Brasil (veja a figura acima). 2 Portal de Educação Musical do Colégio Pedro II – www.portaledumusicalcp2.mus.br
• Os índios costumavam dançar em círculos cantando e batendo os
pés.
• Os portugueses chegaram em “caravelas” (navios) e se espantaram
com a nudez dos nativos.
• Um dos cantos dos tupis era dedicado a uma ave amarela, uma
espécie de arara, que eles chamavam “Canide ioune” (ave amarela na
língua tupi).
• Os portugueses se vestiam com muita roupa, usavam barba,
grandes chapéus e provavelmente trouxeram violas (o ancestral do violão)
na sua primeira viagem.
E então? Vamos cantar essa história?
Chegança
Antonio Nóbrega
Sou Pataxó,
Sou Xavante e Cariri,
Ianonami, sou Tupi
Guarani, sou Carajá.
Sou Pancaruru,
Carijó, Tupinajé,
Potiguar, sou Caeté,
Ful‐ni‐o, Tupinambá.
Depois que os mares dividiram os
continentes
Quis ver terras diferentes.
Eu pensei: "vou procurar
Um mundo novo,
Lá depois do horizonte,
Levo a rede balançante
Pra no sol me espreguiçar".
Eu atraquei
Num porto muito seguro,
Céu azul, paz e ar puro...
Botei as pernas pro ar.
Logo sonhei
Que estava no paraíso,
Onde nem era preciso
Dormir para se sonhar.
Mas de repente
Me acordei com a surpresa:
Uma esquadra portuguesa
Veio na praia atracar.
De grande‐nau,
Um branco de barba escura,
Vestindo uma armadura
Me apontou pra me pegar.
E assustado
Dei um pulo da rede,
Pressenti a fome, a sede,
Eu pensei: "vão me acabar".
Me levantei de borduna já na
mão.
Ai, senti no coração,
O Brasil vai começar.
Áudio sugerido: “Chegança”, de Antônio Nóbrega, do CD “Madeira que cupim não rói”
3 Portal de Educação Musical do Colégio Pedro II – www.portaledumusicalcp2.mus.br
Como nasceu a música brasileira?
A música brasileira mistura elementos de várias culturas,
principalmente as chamadas culturas formadoras: a dos colonizadores
portugueses (européia), a dos nativos (indígena) e a dos escravos
(africana). É difícil estabelecer com certeza os elementos de origem, mas
sabemos que alguns instrumentos musicais, por exemplo, são tradicionais
de certas culturas.
Instrumentos europeus
Instrumentos de teclado
(como o ancestral do piano,
o cravo) Violão
Flauta doce
Violino e
Viola
(família de
cordas) 4 Portal de Educação Musical do Colégio Pedro II – www.portaledumusicalcp2.mus.br
Instrumentos indígenas
Flautas indígenas Maracá (chocalho)
Instrumentos africanos
Berimbau Agogô
Atabaques
6 Portal de Educação Musical do Colégio Pedro II – www.portaledumusicalcp2.mus.br
Sugestão de filme para conhecer um pouco a história da catequese:
TÍTULO DO FILME: A MISSÃO (The Mission, ING 1986)
DIREÇÃO: Roland Joffé
ELENCO: Robert de Niro, Jeremy Irons, Lian Neeson, 121 min., Flashstar
Resumo do filme: No século XVIII, na América do Sul, um violento mercador de
escravos indígenas, arrependido pelo assassinato de seu irmão, realiza uma auto‐
penitência e acaba se convertendo como missionário jesuíta em Sete Povos das
Missões, região da América do Sul reivindicada por portugueses e espanhóis, e que
será palco das "Guerras Guaraníticas. O filme mostra como os jesuítas ensinavam
música aos guaranis. Palma de Ouro em Cannes e Oscar de fotografia.
Sugestão: ver as cenas de música (coral e fábrica de instrumentos) e a cena do
primeiro contato do Padre Gabriel com os índios, na floresta.
6 Portal de Educação Musical do Colégio Pedro II – www.portaledumusicalcp2.mus.br
Sugestão de filme para conhecer um pouco a história da catequese:
TÍTULO DO FILME: A MISSÃO (The Mission, ING 1986)
DIREÇÃO: Roland Joffé
ELENCO: Robert de Niro, Jeremy Irons, Lian Neeson, 121 min., Flashstar
Resumo do filme: No século XVIII, na América do Sul, um violento mercador de
escravos indígenas, arrependido pelo assassinato de seu irmão, realiza uma auto‐
penitência e acaba se convertendo como missionário jesuíta em Sete Povos das
Missões, região da América do Sul reivindicada por portugueses e espanhóis, e que
será palco das "Guerras Guaraníticas. O filme mostra como os jesuítas ensinavam
música aos guaranis. Palma de Ouro em Cannes e Oscar de fotografia.
Sugestão: ver as cenas de música (coral e fábrica de instrumentos) e a cena do
primeiro contato do Padre Gabriel com os índios, na floresta.
HISTÓRIA DA MÚSICA BRASILEIRA
A música do Brasil se formou a partir da mistura de elementos europeus, africanos e indígenas, trazidos por colonizadores portugueses, escravos e pelos nativos que habitavam o chamado Novo Mundo.
Outras influências foram se somando ao longo da história, estabelecendo uma enorme variedade de estilos musicais. Na época do descobrimento do Brasil, os portugueses se espantaram com a maneira de vestir dos nativos e a maneira como eles faziam músicas: cantando, dançando, tocando instrumentos (chocalhos, flautas, tambores).
O maracá era um instrumento muito apreciado pelos índios tupis da costa do Brasil, e os índios costumavam dançar em círculos cantando e batendo os pés.
Um dos cantos dos tupis era dedicado a uma ave amarela, uma espécie de arara, que eles chamavam “Canide ioune” (ave amarela na língua tupi).
A música brasileira mistura elementos de várias culturas, principalmente as chamadas culturas formadoras, que eram a dos colonizadores portugueses (europeia), a dos nativos (indígena) e a dos escravos (africana).
É difícil dizer com certeza, quais foram os elementos de origem, mas sabemos que alguns instrumentos musicais, por exemplo, são tradicionais de certas culturas.
Os primeiros professores de música no Brasil foram os padres Jesuítas, responsáveis pela catequese dos indígenas, a partir de 1549. No sul do Brasil, os Jesuítas construíram as Missões, que era um projeto que além de levar cultura aos índios guaranis, também os ensinavam a religião católica, agricultura, e música vocal e instrumental, criando após dez anos, orquestras inteiras só de guaranis.
Um filme que retrata muito bem a catequese feita na America do Sul pelos padres Jesuítas é o Filme “THE MISSION” (gravado em 1986), do Diretor Roland Joffé, com o ator Robert de Niro no papel principal.
O mais famoso padre jesuíta das Missões foi o padre José de Anchieta (1534-1597), criador de muitas peças de teatro didáticas, que tinham a função de ensinar a religião de uma forma criativa e espetacular aos índios.
Os padrões de interpretação e estilo, obviamente eram todos da cultura europeia, e o objetivo era acima de tudo catequético, com escassa ou nula contribuição criativa original da parte dos índios.
Com o passar dos anos, os índios remanescentes dos massacres e epidemias aos quais sofreram durante todo esse período, foram se retirando para regiões mais remotas do Brasil, fugindo do contato com o homem branco, e sua participação na vida musical nacional foi decrescendo, até quase desaparecer por completo.
Os indígenas não deixaram seus traços na construção da musica brasileira, apenas em alguns gêneros folclóricos, mas de forma bem passiva, perante a imposição da cultura colonizadora.
Até o 19 Portugal foi a maior das influências na construção da música brasileira, erudita e popular, porque introduziu a musica instrumental, harmônica, a literatura musical e boa parte das formas musicais cultivadas no país ao longo dos séculos, ainda que diversos elementos fossem de origem europeia e não portuguesa.
Ao longo do tempo o intercâmbio cultural com outros países além da metrópole portuguesa, trouxeram vários elementos musicais típicos de outros países, que se tornariam importantes, como as óperas italiana e francesa, e as danças típicas de outros países, como a zarzuela, o bolero e a habanera de origem espanhola, as valsas e polcas alemãs, e o jazz norte americano tiveram também sua participação e transformação dentro da construção da música brasileira.
Até o início do século 18 a maior parte da música erudita era praticada apenas na Bahia e Pernambuco (estados localizados no norte do Brasil), mas no final do século 18, essa grande fusão de diversos elementos melódicos e ritmos africanos começaram a dar a musica popular, uma sonoridade tipicamente brasileira, que se espalhou por todo o país e formou os primeiros nomes da musica brasileira.
Classicismo
O Classicismo chegou ao Brasil em 1808, com a chegada da corte portuguesa ao Rio de Janeiro, causando grande transformação na musica brasileira. Dom João Sexto trouxe consigo a biblioteca musical dos Bragança – uma das melhores da Europa naquela época –, e rapidamente mandou trazer músicos de Lisboa e da Itália, reorganizando a Capela Real, muito prestigiada pela qualidade das músicas apresentadas.
Nesta época surgiu o primeiro grande compositor brasileiro, o padre Jose Mauricio Nunes Garcia, e também Gabriel Fernandes da Trindade, compositor de modinhas e das únicas peças de Orquestra de Câmara, e João de Deus de Castro Lobo.
Romantismo
A figura central neste difícil período foi Francisco Manuel da Silva, discípulo do Padre José Maurício e sucessor de seu mestre na Capela. Era um compositor de escassos recursos, mas que merece crédito por ter fundado o Conservatório de Música do Rio de Janeiro, ter sido o regente do Teatro Lírico Fluminense, e também na Ópera Nacional, e o autor do Hino Nacional Brasileiro. Sua obra refletiu a transição do gosto musical para o Romantismo, quando o interesse dos compositores nacionais se voltou para a ópera, que estava no seu auge, no Brasil.
A maior figura dessa época foi Antônio Carlos Gomes, que compôs óperas com temas nacionalistas, mas com estética europeia, tais como “O Guarani” e “O Escravo”, que conquistaram sucesso em teatros europeus exigentes, como o La Scala em Milão.
Nacionalismo
Brasilio Itiberê da Cunha, Luciano Gallet, e Alexandre Levy foram precursores dessa corrente, Antonio Francisco Braga e Alberto Nepomuceno introduziram um sabor brasileiro na musica nacional e empregaram largamente ritmos e melodias folclóricas em uma síntese inovadora e efetiva com as estruturas formais de matriz europeia.
Mas Heitor Villa Lobos foi a maior figura do nacionalismo musical brasileiro, por ele ter incorporado o folclore brasileiro em sua produção; dono de uma inspiração enérgica e apaixonada, ele fez dos elementos nacionais e estrangeiros, eruditos e populares, um estilo próprio de grande força e poder evocativo, em uma produção que empregava desde instrumentos solo, onde o violão tinha destaque, até grandes recursos orquestrais em seus poemas sinfônicos, concertos, sinfonias, bailados, e óperas, passando pelos múltiplos gêneros da música de câmara, vocal e instrumental.
Ele também desempenhou um papel decisivo na vida musical do país em virtude de sua associação com o governo central, conseguindo introduzir o ensino do canto orfeônico em todas as escolas de nível médio.
Das suas obras podemos citar os Choros, as Bachianas Brasileiras, as suítes intituladas A Prole do Bebê, o Rudepoema, os bailados Uirapuru e Amazonas, e o Noneto.
Vanguardas e sínteses posteriores contemporâneas
A partir de 1939, surgiram outras sínteses musicais, que respeitava a individualidade do aluno, estimulando a livre criação antes mesmo do conhecimento aprofundado das regras tradicionais de composição (harmonia, contraponto e fuga), e uma série de programas radiofônicos divulgando seus princípios e obras de música contemporânea.
Em seguida surgiu um caminho independente e centrado em regionalismos, influenciando a música popular brasileira instrumental. Atualmente todas as correntes contemporâneas encontram representantes brasileiros, e a música erudita no país segue a tendência mundial de usar livremente tanto elementos experimentais quanto consagrados.
A música erudita ainda recebe escasso apoio oficial, a despeito do crescente número de escolas e de novos músicos formados, e do público apreciador.
Diversas capitais estaduais e outras tantas cidades do interior dispõem de pelo menos uma orquestra sinfonica estável e uma escola superior de música, mas grupos de nível realmente internacional ainda são poucos, além de poucas outras mantidas por grandes empresas, como a Orquestra Sinfonica da Petrobras.
Grupos de câmara são mais numerosos e qualificados, e há milhares de intérpretes solo com carreira consolidada fora do país, alem de maestros e instrumentistas que são respeitados internacionalmente, e também das regulares temporadas de opera em São Paulo, Rio de Janeiro e eventos de referencia nacional.
Música Popular
Os escravos negros tiveram o mesmo caso de dominação cultural que os índios, e sua cultura foram muito importantes para a formação da música brasileira atual, especialmente a musica popular.
A vinda de grandes contingentes de escravos da África para o Brasil a partir do século 16 não foi o suficiente, no inicio, para que a cultura oficial os considerasse importantes.
Eles eram considerados como raça inferior e desprezível demais para ser levada a sério, mas seu destino foi diferente do destino dos índios, sua musicalidade logo foi notada pelo colonizador, e por eles serem uma etnia mais integrável à cultura dominante, do que os arredios índios, grande número de negros e mulatos (termo usado aos mestiços de africanos e brancos) passaram a ser educados musicalmente - dentro dos padrões portugueses, naturalmente – formando orquestras e bandas que eram muito louvadas pela qualidade de seu desempenho.
A partir do século 17, eles começaram a formar irmandades de músicos, algumas integradas somente por negros e mulatos, irmandades que passaram a monopolizar a escrita e execução da música em boa parte do Brasil.
A maior influência africana na construção da musica brasileira, veio da diversidade de ritmos, danças e instrumentos, que tiveram um papel maior no desenvolvimento da música popular e folclórica, a partir do século 20.
Origens
Os primeiros exemplos de música popular no Brasil datam do século 17, como o lundu, uma dança africana que chegou ao Brasil, via Portugal, diretamente com os escravos vindos de Angola.
De natureza sensual e humorística, foi censurada na metrópole, mas no Brasil recuperou este caráter, apesar de ter incorporado algum polimento formal e instrumentos como o bandolim.
Mais tarde o lundu, que no início não era cantado, evoluiu assumindo um caráter de canção urbana e se tornando popular como dança de salão. Outra dança muito antiga é o cateretê, de origem indígena e influenciada mais tarde pelos escravos africanos.
A Modinha
Entre os séculos 18 e 19 a modinha assumiu um lugar de destaque, de origem portuguesa, e a partir de elementos da ópera italiana, a modinha é uma canção de caráter sentimental de feição bastante simplificada, muitas vezes de estrutura estrófica e acompanhada apenas de uma viola ou guitarra, e sendo de apelo direto às pessoas comuns.
Era muito usada nos saraus dos aristocratas, e podia ser mais elaborada e ser acompanhada por flautas e outros instrumentos, e ter textos de poetas importantes.
O Choro
Durante o período colonial e o Primeiro Império, as valsas, polcas,schotischs e tangos de diversas origens estrangeiras encontraram no Brasil uma forma de expressão peculiar e que, junto com a herança da modinha, viriam a ser a origem do Choro, um gênero que recebeu este nome em virtude de seu caráter plangente. Surgiu em torno em 1880 e logo adquiriu uma feição própria, onde o improviso tinha um papel principal, e estabilizando-se na formação para uma flauta, um cavaquinho e um violão, e mais tarde ampliando seu instrumental.
Seus maiores representantes foram Joaquim Antonio da Silva Calado, Anacleto de Medeiros, Chiquinha Gonzaga, Ernesto Nazareth e Pixinguinha.
O Samba
Derivado da umbigada, um ritmo africano, o samba surgiu em 1838, com influência da modinha, do maxixe e do lundu, a palavra designava uma variedade de danças de origem negra.
Em meados do século 20, a palavra samba definia diferentes tipos de música introduzidos pelos escravos africanos, e sempre conduzidos por diversos tipos de batuques, mas que assumiam características próprias em cada estado brasileiro, não só pela diversidade das tribos de escravos, como pela peculiaridade de cada região em que foram assentados, mas em geral era um tipo de música identificada para as pessoas mais humildes.
Em 1917, o samba saiu das rodas de improvisações dos morros cariocas, e foi considerada representante da música popular brasileira.
Existem diversas formas regionais de samba em outras partes do país, mas o samba moderno urbano, é cantados ao som de palmas e ritmo batucado, com uma, ou mais partes de versos declamatório e tocado com instrumentos de corda, como cavaquinho, violão, e vários instrumentos de percussão, como pandeiro, surdo e tamborim.
Com o passar dos anos, surgiram outras vertentes do samba urbano carioca, que ganharam denominações próprias como o samba de breque, samba-canção, bossa nova, samba-rock, pagode, entre outras.
Além de ser um dos gêneros musicais mais populares do Brasil, o samba é bastante conhecido no exterior, sendo considerado como um símbolo brasileiro, ao lado do futebol e do carnaval.
Esta história começou com o sucesso internacional da musica “Aquarela do Brasil”, de Ary Barroso, depois se estendeu através de Carmen Miranda, que levou o samba para os EUA, e consagrou também a Bossa Nova, que inseriu definitivamente o Brasil no cenário mundial da música. Independente do idioma, o samba é sucesso em todo o mundo e conquista muitos fãs onde quer que ele seja apresentado.
No fim dos anos 30 iniciou no Brasil a chamada Era do Rádio, que foi o meio de comunicação que assumiu um importante papel de divulgador da música popular até a década de 1950, e onde alguns intérpretes conquistaram uma grande audiência nacional. Nesta época, podemos destacar Dolores Duran, Nora Ney, Vicente Celestino e Angela Maria.
Mudanças na Musica Brasileira com o passar do tempo
A Bossa Nova foi um movimento urbano, originado no fim dos anos 50 em saraus de universitários e músicos da classe média.
No início era apenas uma forma diferente de cantar o samba, mas logo incorporou elementos do Jazz e do Impressionismo musical de Debussy e Ravel, e desenvolveu um contorno intimista, leve e coloquial, com base na voz solo e no piano, ou violão, para acompanhamento, e com refinamentos de harmonia e ritmo.
Os maiores nomes dessa época são Nara Leão, Carlos Lyra, Joao Gilberto, Toquinho, Vinicius de Morais, Tom Jobim e Maysa Matarazzo.
Depois da bossa nova, na década de 60, o samba ganhou novas experimentações com outros gêneros, como o rock e o funk, e experimentados por vários artistas, o período marcou uma afirmação e modernização dentro da música popular, onde foram introduzidos novos estilos de composição e interpretação, com os surgimentos da Musica Popular Brasileira, e movimentos como o Tropicalismo e o Iê Iê Iê.
Dessa época diversos artistas surgiram como Chico Buarque, Caetano Veloso, Geraldo Vandré, Edu Lobo, Gilberto Gil, Roberto Carlos, Erasmo Carlos, Tim Maia, Wanderléia, e outros.
Na década de 70 a transição sofreu mais modificações e a nova safra de músicos, que faziam musicas românticas, melódicas, foram classificados como bregas e milhares de artistas também surgiram nessa época, e outros artistas mais fiéis as tradições trataram de sustentar o estilo do samba original para não deixa-lo morrer.
Nos ano 80, surge o rock com uma safra infindável de estilos e músicos que marcaram a historia da musica brasileira, dentre eles podemos citar as bandas: Blitz, Paralamas do Sucesso, Titãs, Ultraje a Rigor, e Legiao Urbana, que ainda fazem muito sucesso, e tem milhares de fãs de várias idades em todo o país.
Depois do samba, e com a crescente abertura do Brasil à cultura globalizada dos anos 90, diversos gêneros e subgêneros musicais surgiram em todo o Brasil, como pagode, axé, sertanejo, forró, lambada, e outros. E constantemente ainda continuam a surgir novos ritmos e estilos, com novas denominações, em varias regiões do Brasil.
Como uma categoria à parte da música clássica e da Musica Popular Brasileira, encontramos a música tradicional ou folclórica, um gênero constituído por expressões musicais imutáveis, transmitidas de geração em geração, em todas as regiões do país, onde os modernos meios de comunicação e o mercado de consumo não exercem influência diluidora.
Estas expressões se encontram na maior parte ligadas a festividades, lendas e mitos característicos de cada região, e preservam influências arcaicas, onde são detectáveis traços medievais europeus, indígenas e dos escravos negros, muito antigos, ou de elementos étnicos que pertencem a regiões de imigração de populações de fora do Brasil, como ocorre no estado do Rio Grande do Sul, que recebeu grandes levas de italianos, açorianos e alemães.
Dentro da classe de músicas tradicionais podem ser incluídas as praticadas pelos remanescentes das tribos de índios que no passado povoavam todo o território nacional e hoje vivem confinados em reservas, especialmente na região amazônica e do centro-oeste, onde o contato com o colonizador foi menos profundo e transformador.