A telenovela brasileira refere-se à contribuição do Brasil na produção e exibição de novelas desde a sua assimilação na década de 50, até a atualidade. Sua Vida Me Pertence, escrita e dirigida por Walter Forster, e exibida pela extinta TV Tupi São Paulo entre 21 de dezembro de 1951 até 15 de fevereiro de 1952, foi a primeira do gênero, não apenas no Brasil, mas em todo mundo.1 2
As telenovelas são costumeiramente tratadas como "obras abertas", em razão de seu enredo poder ser alterado para ir ao encontro das reações do público que a consome. Veiculadas nas redes nacionais de televisão, em sua maioria de sinal aberto, as telenovelas brasileiras costumam ter seus direitos de exibição vendidos para diversos outros países. Voltadas inicialmente ao entretenimento, algumas novelas também já discutiram polêmicas e questões de responsabilidade social em suas histórias. A telenovela Explode Coração, escrita por Glória Perez e exibida pela Rede Globo em 1995, por exemplo, abordou o desaparecimento de crianças3 , e Chamas da Vida, escrita por Cristianne Fridman e exibida pela Rede Record entre meados de 2008 e o início de 2009, abordou a questão da pedofilia.4
As novelas brasileiras são os programas mais vistos por todos os segmentos de sexo e faixas etárias. Ranking feito pelo Ibope, mostra que o gênero mais visto por homens na televisão aberta, em todo o país, por exemplo, são as telenovelas. A audiência das novelas entre mulheres, no entanto, é quase o dobro do que entre homens. Entre as crianças, os folhetins têm mais do que o dobro da audiência dos programas infantis.5
A primeira telenovela brasileira foi exibida na TV Tupi de São Paulo, Sua Vida Me Pertence, escrita e dirigida por Walter Forster, estreou em 21 de dezembro de 1951 e permenceu até 15 de fevereiro de 1952, tendo cerca de 15 capítulos, exibidos às 20 horas e duas vezes por semana, apresentadas ao vivo. Alguns dos atores que participaram desta produção foram: Vida Alves, Lia de Aguiar, Lima Duarte, José Parisi, Dionísio de Azevedo, além do próprio autor, Walter Forster. O primeiro beijo da televisão brasileira aconteceu nesta novela entre os protagonistas, interpretados por Walter Forster e Lia de Aguiar1 , que não passou de um inocente "selinho".
Em julho de 1963, estreia a novela 2-5499 Ocupado, na extinta Rede Excelsior em São Paulo, às 19h30, inicialmente exibida três vezes por semana, passou a ser diária (de segunda a sexta), sendo a primeira a seguir este formato, para poder prender a atenção do telespectador. Escrita pela autoraDulce Santucci, que traduziu para nossa lingua, a obra original do escritor argentino Alberto Migré, baseando-se no original de Abel Santa Cruz. Esta foi a primeira produção a mostrar o casal romântico Glória Menezes e Tarcísio Meira, casados na vida real, que protagonizaram esta novela. Passou a ser exibida pela Rede Excelsior do Rio de Janeiro, em 9 de setembro de 1963, de forma diária.
E na primeira rede de televisão brasileira, a Rede Tupi (inaugurada em 18 de setembro de 1950 e extinta em 16 de julho de 1980), muitas telenovelasproduzidas e exibidas pela emissora fizeram enorme sucesso. Mulheres de Areia, A Viagem, A Barba-Azul, Os Inocentes e O Profeta, todas escritas pela autora Ivani Ribeiro, foram alguns dos maiores sucessos da Rede Tupi na época e, superavam as novelas da Rede Globo em audiêcia. Outras novelas, como Beto Rockfeller de Bráulio Pedroso, Ídolo de Pano e O Direito de Nascer de Teixeira Filho, Simplesmente Maria de Benjamin Cattan eBenedito Ruy Barbosa, Antônio Maria e Nino, o Italianinho de Geraldo Vietri, também foram algumas das novelas produzidas pela Rede Tupi que fizeram um estrondoso sucesso.
Escrava Isaura escrita por Gilberto Braga, adaptando o romance homônimo de Bernardo Guimarães, foi exibida pela Rede Globo entre 11 de outubrode 1976 a 5 de fevereiro de 1977, às 18 horas, tendo 100 capítulos, com direção de Herval Rossano e Milton Gonçalves. Foi uma das novelas com maior número de exibições no Brasil, no total foram cinco vezes, e foi uma das mais vendidas para o exterior. Segundo a emissora, foi vendida para quase 80 países. A obra fez tanto sucesso no exterior, que chegou a parar a guerra na Croácia por um dia, e em Cuba, o governo chegou a cancelar o racionamento de energia elétrica durante o gorário de exibição da novela. Lucélia Santos, que estreava na televisão, ficou mundialmente famosa, pelo seu desempenho como a protagonista Isaura. Leôncio é considerado, até hoje, um dos vilões mais cruéis da história da teledramaturgia brasileira, e o papel mais marcante do ator Rubens de Falco na televisão.
Roque Santeiro, escrita por Dias Gomes, seria originalmente exibida a partir de 27 de agosto de 1975, substituíndo o grande sucesso Escalada, novela de Lauro César Muniz e já havia cerca de 30 capítulos gravados e chamadas anunciavam sua estreia. Entretanto, no dia da estreia, o Departamento de Ordem Política e Social, do governo federal, enviou uma mensagem para Rede Globo, censurando e proibindo a exibição da novela. Pois Roque Santeiro era uma adaptação para televisão da peça de teatro, do próprio Dias Gomes, O Berço do Herói, que havia sido censurada e proibida também em sua estreia em 1965, pelo regime militar. E para ocupar o horário na programação, enquanto preparavam outra novela, foi exibida uma reprise compacta do grande sucesso Selva de Pedra, de Janete Clair, que posteriormente seria substituída por Pecado Capital, da mesma autora, sendo que se tornou um dos maiores sucessos história da televisão brasileira. Para a realização desta novela, parte do elenco e dos cenários de 'Roque Santeiro foram reaproveitados.
Depois de 10 anos, já no Governo civil de José Sarney, Roque Santeiro finalmente foi liberada e pode ser exibida. Por consideração aos artistas envolvidos no trabalho original, os mesmos foram convidados a participar da nova versão da novela, com seus respectivos personagens. Porém, Francisco Cuoco e Betty Faria recusaram os papéis principais de Roque Santeiro e Viúva Porcina, já Lima Duarte retornou à produção, interpretando o inesquecível Sinhozinho Malta, mesmo personagem que ele interpretara na versão censurada da novela. Roque Santeirotornou-se um dos maiores sucessos da história da televisão brasileira, conseguindo atingir índices aparentemente impossíveis de audiência. Em seu último capítulo, exibido em 21 de fevereiro de 1986, a novela registrou incríveis 100 pontos de audiência, sendo esta a maior audiência já registrada na história da televisão brasileira.
Vale Tudo, escrita por Gilberto Braga, Leonor Bassères e Aguinaldo Silva, e exibida entre 16 de maio de 1988 a 6 de janeiro de 1989, abordou temas como corrupção, ética e honestidade e é considerada um dos maiores sucessos da televisão brasileira. Quem matou Odete Roitman?, mistério relacionado a identidade do assassino da vilã Odete Roitman (Beatriz Segall), considerada uma das mais cruéis da história da teledramaturgia brasileira, causou uma enorme repercursão e tanta curiosidade nos telespectadores, que foram gravados cinco finais diferentes, mas nem mesmo os próprios atores tiveram acesso ao verdadeiro final. A identidade do assassino foi revelada no capítulo de encerramento da trama: Leila (Cássia Kiss) havia matado Odete Roitman, por engano, pensando que ela era Maria de Fátima (Glória Pires), amante de seu marido, Marco Aurélio (Reginaldo Faria), ex-genro de Odete.
Vale a Pena Ver de Novo é um tradicional programa de televisão transmitido pela Rede Globo às tardes, que exibe reapresentações de telenovelas que fizeram grande sucesso na grade da emissora. Dona Xepa de Gilberto Braga, foi a primeira novela a ser reapresentada neste horário em 1980 que permanece, desde então. Mulheres de Areia de Ivani Ribeiro, em sua primeira reprise, registrou a maior audiência neste horário - 30 pontos de audiência -, outras novelas, como A Viagem, O Rei do Gado, Anjo Mau, Tieta, A Indomada, entre outras, também registraram excelentes índices de audiência. No entanto, muitas telenovelas, como Roque Santeiro, Terra Nostra, Tropicaliente, Deus Nos Acuda, Sinhá Moça e O Profeta, entre outras, que em suas exibições originais foram consideradas "fenômenos de audiência", neste horário, representaram fracassos.
Os capítulos costumam ter uma média de 55 minutos diários de duração e serem apresentados de segunda-feira a sábado. As tramas ficam no ar cerca de sete meses, mas há exceções como "Irmãos Coragem", exibida pela Rede Globo, escrita por Janete Clair e dirigida por Daniel Filho, que ficou mais de um ano no ar (de 8 de junho de 1970 a 12 de junho de 1971).6
Os tipos de assuntos foram divididos, de acordo com o público de cada horário, pesquisado ao longo dos anos, pelas televisões no Brasil. De uma maneira geral, seguem o seguinte padrão:
Classificação Indicativa Telenovelas Rede Globo
Certos elementos são considerados básicos pelos autores, produtores e diretores de televisão:
A construção de uma telenovela baseia-se em sua audiência, ou seja, quanto maior a audiência, maior a duração a novela, pois nem sempre, grandes audiências representam grandes telenovelas. As novelas começam com quatro ou cinco meses de antecedência, o autor pode ter uma ideia concebida só por ele, ou pode haver casos de dois ou três autores trabalhando na mesma novela. Também pode ocorrer os seguintes casos: adaptação geralmente é exclusivo de telenovela para telenovela, podendo ser, ou não, do mesmo criador; baseado em, usado geralmente em romances, ou uma compilação de um autor, sendo as mais comuns as de Jorge Amado (geralmente por Aguinaldo Silva), Éramos Seis de Maria José Dupré são as mais conhecidas. As adaptações pode haver uma interferência dos escritores, principalmente em personagens, já que os romances têm geralmente de dez a vinte personagens, e as novelas têm de trinta a sessenta. Inspirado em é usado geralmente quando alguma obra, seja por inteiro, seja por um personagem, façam uma parte fundamental, sendo que o autor pode e deve interferir na trama, podendo ser o não inspirado em algum acontecimento. A colaboração acontece quando um autor intervém e um personagem ou em algum núcleo, quando acontece algo com o autor, outros escritores devem intervir, mantendo a lógica do enredo criado pelo autor principal. A supervisão de texto ocorre quando um escritor mais experiente supervisiona outros autores mais inexperientes. A direção tem como seus líderes os diretores de núcleo e artísticos, que geralmente são os mesmos. Os diretores de núcleo escolhem o elenco, sendo que os principais são escolhidos à dedo pelo autor.
As telenovelas costumam apresentar duas trilhas sonoras: uma nacional e outra internacional, com exceção de algumas delas exibidas no horário das 18 horas que continham uma única trilha e também as que abordaram temas rurais, as quais apresentaram duas trilhas nacionais; "Roque Santeiro" foi a primeira a mostrar essa novidade na época (1985). O Rei do Gado(Rede Globo, 1996) é a trilha sonora mais bem sucedida da história da TV nacional, foram vendidas cerca de 1,6 milhão de cópias. A trilha nacional de Mulheres Apaixonadas (2003), foi a ultima a conquista disco de diamante, depois de ter vendido mais de 1 Milhão de cópias.8
# | Telenovela | Autor | Diretor | Países | |
---|---|---|---|---|---|
1 | Avenida Brasil | João Emanuel Carneiro | Ricardo Waddington, Amora Mautner e José Luiz Villamarim | 130 países | 9 10 11 |
2 | Da Cor do Pecado | João Emanuel Carneiro | Denise Saraceni | 100 países | 12 |
3 | A Vida da Gente | Lícia Manzo e Marcos Bernstein | Jayme Monjardim | 98 países | 13 |
4 | Terra Nostra | Benedito Ruy Barbosa | Jayme Monjardim | 95 países | 14 |
5 | O Clone | Gloria Perez | Jayme Monjardim e Marcos Schechtman | 91 países | 15 |
6 | Caminho das Índias | Gloria Perez | Marcos Schechtman | 90 países | 16 |
7 | Escrava Isaura | Gilberto Braga | Herval Rossano e Milton Gonçalves | 79 países | 17 |
8 | Por Amor | Manoel Carlos | Paulo Ubiratan e Ricardo Waddington | 70 países | 18 |
9 | Insensato Coração | Gilberto Braga e Ricardo Linhares | Dênis Carvalho | 68 países | 19 20 |
10 | Mulheres de Areia | Ivani Ribeiro | Wolf Maya | 67 países | 21 |
11 | Laços de Família | Manoel Carlos | Ricardo Waddington e Moacyr Góes | 66 países | 22 |
# | Telenovela | Autor | Emissora | Nº de capítulos | Ano de exibição |
---|---|---|---|---|---|
1 | Chiquititas | Gustavo Barrios e Patricia Maldonado | SBT | 807 capítulos | 1997 - 2001 |
2 | Redenção | Raimundo Lopes | Rede Excelsior | 596 capítulos | 1966 - 1968 |
3 | Os Mutantes: Caminhos do Coração | Tiago Santiago | Rede Record | 483 capítulos | 2007 - 2009 |
4 | Os Imigrantes | Benedito Ruy Barbosa | Rede Bandeirantes | 459 capítulos | 1981 - 1982 |
5 | Chiquititas | Íris Abravanel | SBT | 445 capítulos | 2013 - 2015 |
6 | Rebelde 23 | Margareth Boury | Rede Record | 410 capítulos | 2011 - 2012 |
7 | O Machão | Sérgio Jockyman e Ivani Ribeiro | Rede Tupi | 371 capítulos | 1974 - 1975 |
8 | Floribella | Jaqueline Vargas e Patrícia Moretzsohn | Rede Bandeirantes | 344 capítulos | 2005 - 2006 |
9 | A Grande Mentira | Hedy Maia | Rede Globo | 341 capítulos | 1968 - 1969 |
10 | Irmãos Coragem | Janete Clair | Rede Globo | 328 episódios | 1970 - 1971 |
11 | Simplesmente Maria | Benjamin Cattan e Benedito Ruy Barbosa | Rede Tupi | 315 capítulos | 1970 - 1971 |
Telenovela é uma história de ficção desenvolvida para apresentação na televisão. Ela tem a característica de ser dividida em capítulos, em que o seguinte é a continuação do anterior. O sentido geral da trama é previsto inicialmente, mas o desenrolar e o desenlace não.1 Durante a exibição – que pode levar de seis a dez meses, em episódios diários (exceto aos Domingos) – novos rumos e personagens podem ser inseridos.
O termo telenovela é uma palavra de origem castelhana, particularmente do espanhol falado em Cuba, país precursor desse gênero audiovisual que foi inspirado nas radionovelas. O vocábulo é fruto da fusão das palavras: tele (de televisão) e novela, que em espanhol é o mesmo que romance em português.
Devido a sua longa duração, há quem aponte uma pretensa contradição em sua denominação, ao dizer que as telenovelas deveriam se chamar "telerromances". Porém, para a língua portuguesa, o gênero literário novela distingue-se do romance não pelo seu tamanho, mas pela forma como os eventos se sucedem na narrativa e pela abordagem folhetinesca da sua escrita.
A matriz original do termo mostrou ser forte a ponto de conseguir legitimidade em outros idiomas, como o russo, que preferia a palavra 'serial', para designar os folhetins audiovisuais.
A fala cotidiana em países como Brasil, Portugal e mesmo Cuba, aceita a forma abreviada de 'novela' para chamar a obra audiovisual. Porém o termo "telenovela" é preferível a fim de distinguir a obra audiovisual da literária.
Nos EUA, as "telenovelas" recebem o nome de "soap operas" porque as primeiras produções, na década de 1960, eram patrocinadas por fabricantes de sabão (soap). Em língua inglesa, não se fala em novel porque isso indica o gênero literário romance, e não um programa de televisão como no Brasil.2
As telenovelas se caracterizam por sua exibição quase-diária (de cinco a seis vezes por semana), mas distinguem-se na duração dessa exibição: enquanto no mundo latino as obras já começam a ser transmitidas com uma previsão de encerramento as obras produzidas no mundo anglófono possuem duração indefinida.3
Antes de cada capítulo de uma telenovela, é exibido um pequeno clipe audiovisual chamado abertura ou genérico contendo imagens relacionadas à temática da história; música de fundo; créditos de atores, diretores e autores da obra. Em alguns casos, esta abertura é exibida somente após o primeiro bloco da telenovela, ficando entre este primeiro bloco e o primeiro intervalo comercial. Trechos das aberturas também são exibidos como vinhetas de "estamos apresentando" e "voltamos a apresentar" no início e no fim dos intervalos comerciais e como encerramento, onde são exibidos créditos de produção como câmeras e produtores.
A ordem dos créditos exibidos numa abertura não é obrigatória e varia de acordo com cada produção, mas é comum que seja exibido primeiro o nome dos autores seguidos pelos protagonistas e antagonistas, núcleo central, apresentando (novos atores), atores convidados, crianças, participações especiais e por fim os colaboradores, os diretores, o diretor principal e o diretor de núcleo. O título da novela é comumente exibido no término da abertura, mas há também ocasiões em que é exibido tanto no início quanto no fim ou até mesmo somente no início ou no meio da abertura.
Já nos encerramentos, a ordem é: elenco de apoio (atores com baixa participação nas novelas), autorização especial (geralmente vinda do SATED), equipe técnica (ordem variada), gerência de produção e, por último, marcas que anunciaram "merchandising" e a realização (logomarca, site da novela, ano de produção e razão social da emissora).
Em Portugal e países lusófonos de África as aberturas tem o nome de "Genérico" e possuem duração variada de 50 segundos a 1 minuto.
Algumas telenovelas, imediatamente antes do genérico final, exibem um separador contendo uma imagem do genérico com a expressão Cenas do Próximo Episódio bem legível. De seguida é mostrado um pequeno excerto do capítulo seguinte com imagem e som e, em seguida, apenas imagens aleatórias do mesmo, acompanhadas de música de fundo.
Noutros casos, imediatamente após o genérico inicial é exibido um bloco de anúncios publicitários, normalmente com um cronômetro num dos cantos do ecrã, indicando o tempo que falta para o capítulo propriamente dito começar. Normalmente são exibidos anúncios dos patrocinadores da telenovela.
Os países que mais se destacam na produção de telenovelas são Brasil, México, Colômbia, Venezuela, Chile, Argentina e Portugal. Brasil e México são as que produzem as telenovelas mais conhecidas e, consequentemente as mais exportadas, inclusive entre os dois países. Portugal é um grande produtor de telenovelas, onde se destacam as telenovelas produzidas pela TVI,RTP e agora também da SIC, que já são exportadas para mais de 25 países. A primeira novela portuguesa foi Vila Faia da RTP[carece de fontes], que ganhou uma nova adaptação em 2008.
As telenovelas brasileiras, principalmente as da Rede Globo, tem enredos, no geral, com temas muito semelhantes se comparadas. Na maioria das vezes, misturam drama, romance eviolência de uma forma bem peculiar, com o objetivo de ter como público alvo adulto feminino.
De tarde, as telenovelas brasileiras abordam um tema mais leve, com histórias focadas em romance e aventura. Ao anoitecer, envolvem temas mais radicais, misturando o romance já existente com dramatizações e leves cenas de sexo e violência. As histórias frequentemente começam com tramas leves e pouco complicados, e apenas com o passar da história osmistérios se desenrolam pouco a pouco, tornando o enredo forte e complexo.
Na produção de telenovelas em Portugal se destacam à SIC e a TVI. A RTP, também produzia obras do género, mas resolveu investir mais em séries. As novelas portuguesas tem lugar à Tarde, e em Prime Time. As novelas exibidas no início e no final da tarde (por volta das 14h e ás 18h), na TVI, são novelas que já foram exibidas em horário nobre, e na SIC (no início da tarde) são novelas antigas da Rede Globo e (no final da tarde) são novelas novas da Rede Globo. Em Prime Time (horário nobre), acolhe o período entre as 21, 22 e 23 horas.
A TVI há muito que vende novelas para o exterior e a SIC em 2011 deu início à exportação das suas produções, tais como Perfeito Coração. A RTP também emite novelas produzidas pelaRede Record e pelo SBT. A SIC também emite novelas produzidas pela Rede Globo.
As novelas angolanas têm início em 2008, com a telenovela Minha Terra, Minha Mãe, sendo o canal estatal TPA o único a realizar tal feito.
Fotonovelas são novelas em quadrinhos que utilizam, no lugar dos desenhos, fotografias, de forma a contar, sequencialmente, uma história.
No Brasil, as fotonovelas tiveram um mercado cativo por mais de 25 anos, entre os anos 1950 e 70, representando a ideia de uma imprensa popular feminina, com milhões de leitores de histórias publicadas em revistas com grande circulação nacional.
A primeira revista de fotonovela publicada no Brasil foi "Encanto", pois embora "Grande Hotel" circulasse desde 1947, só em seu nº 210, de 31/07/1951, publicou a primeira fotonovela, intitulada "O primeiro amor não morre". O primeiro número de "Capricho" circulou em 17/07/1952.
Nos anos 1970, mais de 20 revistas de fotonovelas chegaram a circular no Brasil, publicadas por várias editoras: Bloch, Vecchi, Rio Gráfica, Abril e Prelúdio, sendo que, na época, ao contrário das demais editoras que importavam as fotonovelas da Itália, a Bloch produzia suas fotonovelas no Brasil, com a revista "Sétimo Céu".1
Em pesquisa de 1974, as revistas de fotonovela só eram superadas, em venda, pelas revistas de quadrinhos infantis. A revista "Capricho", da Editora Abril, era na época a mais vendida (média quinzenal de 211.400 exemplares), perdendo apenas para "Pato Donald", "Mickey" e "Tio Patinhas" (cada uma com uma média periódica aproximada de 400 mil exemplares).2
Em 1975, o Instituto Verificador de Circulação analisou a receptividade que as revistas de fotonovelas tinham em todo o país, na venda avulsa. A revista "Capricho" vendia quinzenalmente 273.050 exemplares, sendo que possuía, em todo o país, apenas três assinaturas.3 Com fotonovelas italianas, "Capricho" também vendia em Portugal e colônias ultramarinas, num total de 11.186, com apenas um assinante, anônimo. Super Novelas Capricho, com circulação quinzenal, vendia 104.903 exemplares, com apenas dois assinantes no Brasil, "Ilusão" vendia quinzenalmente 108.319 exemplares, e "Noturno", com venda mensal de 72.007<Idem, ibidem>.
A fotonovela apresenta uma narrativa que utiliza em conjunto a fotografia e o texto verbal. Como nas histórias em quadrinhos desenhadas, cada quadrinho da sequência corresponde a uma cena da história, no caso, corresponde a uma fotografia acompanhada da mensagem textual.
São, em geral, publicadas no formato de revistas, livretos ou de pequenos trechos editados em jornais e revistas, e algumas são divididas em capítulos que, geralmente, têm um desfecho próprio, uma espécie de cliffhanger, que cria suspense e curiosidade no leitor, levando-o a comprar a continuação.
A característica principal das histórias é a intriga sentimental, geralmente apresentando uma heroína de origem humilde que luta por um amor difícil e complicado, alcançando seu objetivo de felicidade no final da narrativa. As personagens são pouco trabalhadas psicologicamente, com características maniqueístas e as consequências são sempre estereotipadas.
Críticos e estudiosos consideraram a fotonovela, quase sempre, como um "subgênero da literatura".4 Entre os anos 1967 e 1971, Angeluccia Bernardes Habert, como tese de doutoramento no Departamento de Sociologia da Universidade de São Paulo, pesquisou o campo das fotonovelas, resultando o "estudo de uma forma de literatura sentimental fabricada para milhões", subtítulo que deu à "Fotonovela e Indústria Cultural", editada pela Vozes (1973).1
A novela literária
Os estudos de gênero da literatura em língua portuguesa classificam uma narrativa, grosso modo, em Romance, Novela ou Conto. É comum dividirmos romance, novela e conto pelo número de páginas. Em média, a novela tem entre 50 e 100 páginas, ou seja 20 mil a 40 mil palavras. Entretanto, o romance tem diferenças estruturais importantes em relação à novela e ao conto, estes sim gêneros sem diferenciação em determinados países. Os equivalentes de novela em inglês e francês são novella e nouvelle, respectivamente, enquanto romance se diz novel em inglês e roman em francês.
Para Carlos Reis (2003), enquanto no conto a ação manifesta-se como uma ação singular e concentrada, no romance há um paralelo de várias ações e, na novela, uma concatenação de ações individualizadas.
Eikhenbaum, formalista russo, define a diferença entre um e outro em artigo de 1925. Para ele “o romance é sincrético, provém da história, do relato de viagem, enquanto novela é fundamental, provém do conto (Poe) e da anedota (Mark Twain). A novela baseia-se num conflito e tudo mais tende para a conclusão.”
Primórdios da novela
As origens da novela enquanto gênero literário remontam aos primórdios do Renascimento, designadamente a Giovanni Boccaccio (1313-1375) e a sua grande obra, o Decameron, ou Decamerão, que rompe com a tradição literária medieval, nomeadamente pelo seu carisma realista. Trata-se de uma compilação de cem novelas contadas por dez pessoas, refugiadas numa casa de campo para escaparem aos horrores da Peste Negra, a qual é objeto de uma vívida descrição no preâmbulo da obra. Ao longo de dez dias (de onde decameron, do grego deca, dez), as sete moças e os três jovens, para ocuparem as longas horas de ócio do seu auto-imposto isolamento, combinam que todos os dias cada um conta uma estória, geralmente subordinada a um tema designado por um deles. Refira-se ainda outra obra, escrita em francês, com o mesmo tipo de estruturação: o Heptameron, da autoria de Margarida de Navarra (1492-1549), rainha consorte de Henrique II de Navarra. Aqui, são dez viajantes que se abrigam de uma violenta tempestade numa abadia. Impossibilitados de comunicarem com o exterior, todos os dias cada um conta uma estória, real ou inventada. Em jeito de epílogo, cada uma é concluída com comentários dos participantes, em ameno diálogo. Era intenção da autora que, à semelhança do Decameron, a obra compreendesse cem estórias, porém a morte impediu-a de realizar o seu intento, não indo além da segunda estória do oitavo dia, num total de 72 relatos. Será também a morte prematura que poderá explicar uma certa pobreza de estilo, contrabalançada porém por uma grande perspicácia psicológica.
Instituição da novela enquanto estilo literário
Mas será apenas nos séculos XVIII e XIX que os escritores fundam a novela enquanto estilo literário, regido por normas e preceitos. Os alemães foram então os mais prolíficos criadores de novelas (em alemão: “Novelle”; plural: “Novellen”). Para estes, a novela é uma narrativa de dimensões indeterminadas – desde algumas páginas até às centenas – que se desenrola em torno de um único evento ou situação, conduzindo a um inesperado momento de transição (Wendepunkt) que tem como corolário um desfecho simultaneamente lógico e surpreendente.
Grandes novelas da literatura mundial
1759: Cândido, ou o otimismo, de Voltaire
1882: O Alienista, de Machado de Assis
1886: A morte de Ivan Ilitch, de Tolstói
1887: Um estudo em vermelho, de Sir Arthur Conan Doyle
1891: Billy Budd, Herman Melville
1898: A volta do parafuso, de Henry James
1903: Tufão, de Joseph Conrad
1915: Metamorfose, de Kafka
1952: O Velho e o Mar, de Ernest Hemingway
1959: Adeus, Columbus, de Philip Roth
1962: Aura, de Carlos Fuentes
1973: O Exército de um homem só, Moacyr Scliar
FOTONOVELA
Uma fotonovela é uma espécie de novela em formato de história em quadrinhos onde o tipo das imagens predominantes são fotos em vez de desenhos.
É uma forma de arte seqüencial que conjuga texto e imagens com o objetivo de narrar histórias dos mais variados gêneros e estilos. São, em geral, publicadas no formato de revistas, livretos ou de pequenos trechos editados em jornais e revistas.
Assim como as telenovelas, algumas fotonovelas são divididas em capítulos que geralmente tem um desfecho próprio, para dar a sensação de suspense e curiosidade ao leitor que certamente ficará tentado a comprar a continuação.
História da Fotonovela
Considerada um subgênero da literatura, a fotonovela é uma narrativa mais ou menos longa que conjuga texto verbal e fotografia. A história é narrada numa seqüência de quadradinhos (como a banda desenhada) e a cada quadradinho corresponde uma fotografia acompanhada por uma mensagem textual.
A fotonovela teve início na década de 40 em Itália e a sua origem foi motivada pela crescente popularização do cinema e a fama dos atores. A estabilização e o aperfeiçoamento técnico da fotografia, o acesso mais ou menos difícil de um público geral ao cinema e a inexistência ou limitada difusão da televisão são também fatores importantes para o surgimento e sucesso da fotonovela . O neo-realismo em voga na Itália determinou as descrições quotidianas e a temática urbana e realista presente nas fotonovelas. Os iniciadores da fotonovela em Itália foram Stefano Reda e Damiano Damiani que começaram por publicar em revistas adaptações de filmes de sucesso (o chamado cine-romance que adaptou obras como O Conde de Monte Cristo, O Monte dos Vendavais, Ana Karennina, e A Dama das Camélias). Essas primeiras fotonovelas eram protagonizadas por atores populares e as revistas tentavam realçar um determinado tipo de imagem do ator em questão.
Mais tarde a fotonovela torna-se independente do cinema e caracteriza-se pelas suas intrigas sentimentais (a heroína é quase sempre uma rapariga de origem modesta que sonha com um amor cheio de obstáculos e dificuldades, mas no final consegue o seu objetivo), as personagens não demonstram um grande desenvolvimento psicológico e são sempre estereotipadas (os bons são sempre bons e os maus arrependem-se no final ou sofrem as conseqüências), predomina o imaginário exótico, e, mais tarde o “suspense” e o sexo, os temas variam entre problemas afetivos, sociais, a procura de sucesso numa carreira, a justiça na sociedade, a ascensão social, a marginalidade, etc.
O público da fotonovela é um público majoritariamente feminino e culturalmente pouco exigente, com pouca formação e com um baixo poder econômico. As revistas de fotonovela têm como finalidade a transmissão dos princípios éticos, morais e sociais concordantes com o sistema de valores da ideologia dominante através da integração da mulher na sociedade urbana.
Em França a primeira fotonovela data de 1949 e a sua expansão para Luxemburgo e Bélgica acontece logo depois. Em Espanha, a fotonovela surge nos finais dos anos 60 e conta com um público bastante extenso. Mais tarde a fotonovela chega à América latina e África do norte (a maior parte das revistas são traduções dos originais italianos). A fotonovela é um fenômeno que não tem ocorrência no mundo anglo-saxônico. É um produto de literatura de massas tipicamente latino.
A articulação narrativa da fotonovela é semelhante à da banda desenhada: um fotograma que apresenta um plano da ação acompanhado do texto verbal que reproduz o discurso das personagens, funcionando também como legenda ou resumo. O encadeamento da ação é lógico e cronológico, utilizando-se muitas vezes o recurso à elipse. A ação é, muitas das vezes, arrastada ao longo de vários números de uma revista o que aproxima a fotonovela do romance-folhetim do séc. XIX e do folhetim radiofônico. O narrador desempenha um papel importante na fotonovela uma vez que, para além de elucidar o leitor sobre a ação, enuncia também juízos de valor, ilações de teor moral, justificações sobre o comportamento das personagens e controla a ação, retardando-a e alongando-a. A linguagem utilizada nas fotonovelas é, normalmente redundante e expositiva para evitar a possibilidade de dúvidas ou conflito.
Relativamente à fotografia nem sempre as fotonovelas possuem grande qualidade uma vez que a preocupação do consumo rápido e imediato das revistas e a preocupação do lucro fácil sobrepõem-se a uma maior noção artística. Os planos e os enquadramentos utilizados nas fotografias são quase sempre retirados do cinema.
TELENOVELA
Uma telenovela é um folhetim televisivo de longa duração, diferentemente da minissérie, que é de curta duração. A telenovela caracteriza-se por explorar enredos de fácil aceitação pelo público, como histórias de amor e conflitos familiares e sociais. Diferencia-se do teatro e do cinema basicamente por ser um produto cultural rapidamente descartável, além de funcionar como uma espécie de obra aberta, cujo desenvolvimento e desfecho podem ser alterados a qualquer momento, de acordo, principalmente, com os índices de audiência (Ibope), ou seja, segundo o interesse imediato do público na história.
História da telenovela no Brasil
Em 1950 surge a televisão e logo depois, em 1951, a primeira telenovela é transmitida na TV Tupi, Sua vida me pertence. Este novo tipo de narrativa era uma aquisição recente, e não se sabia ainda como explorá-lo, então o passado radiofônico foi usado como apoio. Durante praticamente toda a década de 50, a telenovela evoluiu no interior de uma TV pautada pela improvisação técnica, organizacional e empresarial. Este quadro que irá se transformar na década de 60. A implantação de uma indústria cultural modifica o padrão de relacionamento com a cultura, uma vez que definitivamente ela passa a ser concebida como um investimento comercial, e transforma a mentalidade na forma de gerir o patrimônio.
O advento da telenovela diária está estreitamente ligado a este quadro mais amplo de transformações. Com o surgimento do videoteipe, a primeira telenovela diária, 2-5499 ocupado, do argentino Alberto Migré, é levada ao ar em julho de 1963 pela Excelsior. Ela surge como uma narrativa apropriada para ampliar o público das emissoras e dá certo, embora no início o público tenha tido ainda algumas dificuldades para se acostumar à sua seqüência diária. Ela entrou no cotidiano e já em 1964, tornou-se mania nacional, com o grande sucesso O Direito de Nascer. Entre 1963 e 1969 são levadas ao ar 195 novelas, número superior ao do período de 1951 a 1963, com uma diferença significativa, trata-se agora de estórias diárias, que preenchem a programação durante toda semana.
Programação obrigatória das emissoras, elemento fundamental na distribuição dos horários e dos custos, a telenovela é também responsável pela elevação dos índices de audiência das emissoras e alteração na distribuição da programação. O horário entre 19h e 20h30, antes preenchido prioritariamente com filmes e telejornalismo, passa a ser ocupado quase que inteiramente pelas novelas. Somente em 1965 foram produzidos 48 textos diários. Isto significa, por um lado, o fortalecimento do gênero, mas por outro, demonstra ainda a ausência de um modelo de produção que racionalize a relação entre duração e custo operacional, e permita determinar com alguma precisão qual o número de capítulos que uma estória deve ter para ser rentável.
Uma periodização histórica, de 1963-66, nos permite ter uma idéia do tipo de novelas que marcam os anos 60. O que caracteriza o período é a presença do melodrama. Mas se é verdade que o melodrama era homogêneo, é importante levarmos em consideração que a década de 60 não se caracteriza exclusivamente pela sua presença. Existiram algumas tentativas que buscaram reformular as temáticas e os referenciais de linguagem circunscritos até então ao modelo folhetinesco, como Beto Rockefeller que aparece como um marco no gênero. A contradição que existia entre teleteatro e telenovela nos anos 50, enquanto elemento de distinção entre dois gêneros dramático, se repõe no interior da própria novela.
A partir da virada dos anos 60/70, a telenovela se encontra imersa num processo cultural cada vez mais atravessado pelos influxos modernizadores da sociedade. A época será de busca de padrões de excelência no campo empresarial, de estabilização da programação, e também de qualificação da ficção televisiva. A TV Globo emerge, então, como emissora exemplar e as telenovela passam a enfatizar o uso de linguagem coloquial, cenários urbanos contemporâneos e referências compartilhadas pelos brasileiros. Hoje, a telenovela é responsável pela sustentação econômica e pela maior parte dos lucros das emissoras de televisão. A atração do público pelo universo ficcional e a rentabilidade que ela gera são os principais componentes para o sucesso desse gênero.
Influência da Telenovela na Sociedade Brasileira
A televisão tem uma capacidade peculiar de captar, expressar e atualizar representações através da construção de uma comunidade nacional imaginária. Ela fornece um repertório, anteriormente da alçada privilegiada de certas instituições tradicionais como a escola e a família por meio do qual as pessoas de classes sociais, gerações, sexo e religiões diferentes se posicionam, sendo emblemática do surgimento de um novo espaço público. Ironicamente esse espaço surge sob a égide da vida privada. Não por coincidência, o panorama de maior popularidade e lucratividade da televisão brasileira é a telenovela.
A telenovela exerce um papel de fundamental importância na representação da sociedade brasileira no meio televisivo. A representação é, de uma maneira geral, o ato de tornar algo presente, através de imagens abstratas ou concretas, de conteúdos mentais, de discursos e de outros meios, sem que a ausência material seja superada. No caso da telenovela, a representação diz respeito à capacidade artística de tornar presente, através de formas e figuras, um mundo real ou possível, da experiência direta e concreta ou da fantasia, do delírio ou da intimidade mais idiossincrática.
Abordando temáticas fortes e contundentes, a telenovela se firmou como um dos mais importantes e amplos espaços de problematização do Brasil, das intimidades privadas às políticas públicas. Seus textos sintetizam o público e o privado, o político e o doméstico, a notícia e a ficção, convenções formais do documentário e do melodrama. São vários os exemplos de telenovelas que trataram de forma incisiva temas do âmbito público através da representação da ficção: Verão Vermelho (1960) e Rei do Gado (1996) com a reforma agrária; Gabriela (1975), Saramandaia (1976), O Bem Amado (1973) e Roque Santeiro (1985) com o coronelismo direta ou indiretamente; Vale Tudo (1988), Que rei sou eu (1989), Deus nos Acuda (1992) e Porto dos Milagres (2001) com a corrupção política.
Esse gênero é capaz de propiciar a expansão de dramas privados em termos públicos e de dramas públicos em termos privados. Os modelos de homem e mulher, de relacionamentos, de organização familiar e social são amplamente divulgados e constantemente atualizados pela telenovela para todo o território nacional. Ela estabelece padrões com os quais os telespectadores não necessariamente concordam mas que servem como referência legítima para que eles se posicionem e dá visibilidade a certos assuntos, comportamentos, produtos e não a outros. O vestuário, a decoração, as gírias e as músicas que cada telenovela lança transmitem uma certa noção do que é ser contemporâneo. Personagens usam telefones sem fio, celulares, faxes, computadores, trens, helicópteros, aviões, meios de comunicação e de transporte que atualizam de modo recorrente os padrões vigentes na sociedade.
Nota lingüística
A palavra telenovela é uma palavra que surgiu inicialmente na língua castelhana, baseada nas palavras televisión (televisão) e novela. Novela, ou melhor, novel tem em língua inglesa que predomina uma linguagem mundial o sentido de história longa e enredo complexo, ou seja romance, e é esse o sentido que se lhe dá em telenovela. Em português, as novelas passaram a ser transmitidas em outros países da América Latina, no entanto, novela significa história curta, ou seja, aproximadamente 7 meses, (O equivalente inglês é novelette.) Folhetins de longa duração deveriam ser chamados em português tele-romances. Essa palavra foi usada em Portugal com a telenovela Chuva na Areia de Luís de Stau Monteiro, mas o termo não criou uso. No Brasil, o gênero é chamado simplesmente “novela” (como abreviação da palavra telenovela).
RADIONOVELA
Radionovela é uma novela exibida em rádio. O lugar que atualmente cabe à televisão no entretenimento doméstico era ocupado pelo rádio, incluindo a exibição de novelas. Jerônimo, o Herói do Sertão, é talvez a radionovela nacional mais famosa do Brasil. A versão de O direito de nascer também fez sucesso.
Jerônimo foi adaptada pela TV Tupi como Telenovela, protagonizada pelo ator Francisco Di Franco ao lado de Eva Christian (Aninha),Canarinho (Moleque Saci), Toni Tornado (João Corisco) e Ítalo Rossi (Coronel Saturnino de Bragança, avô de Aninha). A versão televisiva teve três episódios: Laços de Sangue (que contava a origem do herói), Fronteiras do Mal e Sendas do Crime.
História da Radionovela no Brasil
A pequena Rádio São Paulo dá abrigo a Oduvaldo Vianna , que retornando de uma temporada como correspondente do jornal A Noite em Buenos Aires, trazia como grande novidade o enorme sucesso das novelas transmitidas pela Radio El Mundo. Entusiasmado Oduvaldo escreveu algumas novelas e, inutilmente , procurou patrocinadores . Convidado a dirigir a Rádio São Paulo aceitou o cargo e aproveitou para levar ao ar sua radionovela : A predestinada.
O sucesso foi tão rápido e consistente que em poucos meses a emissora situava-se como líder de audiência em São Paulo. Qual a receita deste inesperado sucesso? A radionovela resgatava, de alguma forma, o imaginário popular reproduzindo através dos contos e casos do cotidiano simples e sofrido da brasileira típica da época : a dona de casa. Em se tratando do universo feminino , numa época em que predominava o comportamento submisso , fruto de uma cultura historicamente machista e autoritária , a radionovela – bem como sua irmã mais próxima : a fotonovela – priorizava temáticas próximas ao papel possível em uma sociedade em transição do rural para o urbano , do arcaico para o moderno.
Voltada para um público onde a subserviência e alienação ditam o modo de agir, a radionovela exerceu papel importante ao reforçar os papéis femininos desejáveis, fortemente enraizados nos quatro mitos da cultura cristã – ocidental em relação à mulher: o amor, a paixão, o incesto e a pureza. Estes elementos, fortemente presentes na cultura latina foram assimilados, codificados e transformados de modo a constituir um produto rentável e facilmente palatável, seja para o ouvinte quanto aos interesses financeiros de mercado . Assim , formatado como um produto direcionado à mulher, os temas desenvolvidos priorizavam as questões ligadas à busca do casamento (objetivo final de toda mulher de família) ; mulheres traídas e/ou abandonadas (decorrência do casamento frustrado) ; mães solteiras (casamento não consolidado) rejeitadas pela família e pela sociedade; adultério (casamento em crise pela incapacidade da mulher em completar os anseios do marido) ; preservação da pureza feminina (condição necessária para concretizar o casamento ) e pecados carnais e luxuriosos (o sexo extra-casamento, novamente causado pela incapacidade feminina e reservado exclusivamente ao homem).
Os títulos das novelas , bem como das fotonovelas, filmes mexicanos , argentinos e italianos exibidos em grande quantidade nos anos quarenta e cinqüenta , deixam claro o tom melodramático e a necessidade de fazer chorar e sofrer : Almas desencontradas; Prisioneira do Passado; Sonhos Desfeitos; Mais forte que o amor; Perdida ; Mulher sem alma e – a maior de todas – O Direito de nascer do cubano Félix Cagnet , cujo enredo tinha início com a frase bombástica de Maria Helena (futura mãe de Albertinho Limonta) :
-“Doutor , não posso ter este filho que vai nascer.”
Primeiramente na voz de Walter Foster na Rádio Tupi de São Paulo e de Paulo Gracindo na Nacional do Rio de Janeiro o personagem de Albertinho Limonta , pela primeira vez na história da comunicação brasileira , levou a população a um estado de comoção. O mesmo sucederia nas diversa vezes em que foi exibida pela televisão. Registra Ismael Fernandes em Telenovela Brasileira: Memória que o último capítulo em 13 de agosto de 1965 foi seguido de uma festa no Ginásio do Ibirapuera¸ totalmente lotado e numa espécie de neurose coletiva o povo gritava os nomes dos personagens e chorava por Mamãe Dolores, Maria Helena e Albertinho.
Nas emissoras do ABC o gênero consolidou-se na forma de rádio teatro como o Grande Teatro de Emoções apresentado na Rádio Independência de São Bernardo do Campo e que levava ao ar , no final da década de 50, peças produzidas por Guido Fidélis e Oswaldo Russi . A mesma dupla escreveu para a Rádio São Paulo em 1958 a novela Remorso . Pelas ondas da ZYR – 82 , Rádio Emissora ABC , ia ao ar aos sábados o Grande Teatro Philips com textos de Alves Cabral e Edson Lazari.
Segundo Silvia Borelli e Maria Celeste Mira a partir dos anos 60 a radionovela perde espaço para a telenovela , até desaparecer em 1973. Segundo estas pesquisadoras: com a consolidação da telenovela, risos, lágrimas , medos e ansiedades passam a ser visualizados.(…) O melodrama ocupou novos territórios; construiu sua hegemonia original e passou gradativamente a conviver com aventuras , comédias, policiais, até a plena explosão da diversidade ficcional na televisão , a partir dos anos 70 .
FONTES:
https://www.facom.ufba.br/artcult/brasiltelenovela/
https://br.geocities.com/memorialdatv/radio.htm
https://pt.wikipedia.com/
https://www.fcsh.unl.pt/edtl/
https://www.rainhadapaz.g12.br/projetos/portugues/generos_textuais/mitos/fotonovela.htm